terça-feira, 15 de agosto de 2006

PEQUENOS BURGUESES COM CHICO BUARQUE

Devo admitir e agradecer!

Meus irmãos sempre se preocuparam com a minha formação, principalmente intelectual. E, na condição de caçula de uma prole de quatro filhos, além dos meus pais, certamente sofri a influência e adotei - como exemplos - hábitos e comportamentos dos meus irmãos mais velhos - Aureliano, Tércio e Dinorá.

Certa feita, Aureliano chegou do trabalho trazendo dois ingressos - ou seriam convites! - que presenteou, a mim e à Dinorá para assistirmos a peça "Os Pequenos Burgueses", do russo Máximo Gorki, com retubante sucesso no Teatro Cacilda Becker.

Na época, aquele teatro funcionava nas dependências do prédio da federação Paulista de Futebol, na avenida Brigadeiro Luiz Antônio, em condições inviáveis para as regras do Contru nos dias de hoje.

Embora não afeito àquele tipo de programa, logo percebi que a fluência de público era grande - sendo o uso do elevador, se disponível inviável - subimos pela estreita escada, com a disposição de obtermos um bom lugar.

Num dos lances da escada, já nos aproximando da sala de espera, notei a presença de um rapaz com o violão apoiado sobre os dois pés, numa das mãos segurava timidamente um cigarro entre os dedos e tinha ao seu lado uma jovem franzina, de uma beleza singela. Marieta Severo, com seu olhar cândido, trajava uma saia longa com a barra sobrando sobre suas sandálias.

Foi a Dinorá quem sussurou.

-"É o Chico Buarque !"

Devo ter vacilado. Ela então acrescentou.

-"Aquele da Banda !"

Levantei a fronte e deparei com dois holofotes - sem qualquer pudor, mais pareciam duas gemas de esmeralda - como a iluminar aquela passagem, num brilho incomum. Ainda que disperso e sem a fama adquirida com a carreira brilhante, não havia como ignorar a presença do compositor carioca, que discretamente vivia sua fase paulistana.

Sem dar bandeira - na época, a tietagem não era de bom tom - alcançamos as dependências do teatro, onde assistimos a apresentação de "Os pequenos burgueses" - em boa companhia - com atuação magistral de Renato Borghi, ainda um jovem ator, em ascensão e buscando o seu espaço no dramaturgia brasileira.

É uma lembrança, não esquecida e agora compartilhada!
(Folha de Ourinhos - 03/09/2006)

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