segunda-feira, 28 de agosto de 2006

FESTIVIDADES DA SEMANA DA PÁTRIA

Durante a nossa caminhada matinal ? eu e a Orminda ? somos levados pelo som de uma fanfarra ensaindo, ainda desordenada em seus acordes, e despertados para a proximidade do feriado nacional de 7 de setembro ? Dia da Independência !

O prefeito municipal promete recuperar as calçadas da orla que foram danificadas pela última ressaca, enquanto nós vamos nos organizando para receber o caçula Gustavo, sua meiga Raquel e o nosso neto Rafael, de 7 anos, já alfabetizado e leitor assíduo do Monteiro Lobato.

Então o pensamento, como nos versos de Lupicínio Rodrigues que "parece uma coisa à-toa, mas como é que a gente voa quando começo a pensar ... ", me leva - ou seria, enleva - para os tempos de grupo escolar. Primeira turma do "Virgínia Ramalho", no seu prédio novo da rua Gaspar Ricardo e depois no tradicional "Jacinto Ferreira de Sá", na rua nove de julho - onde antes eu já havia frequentado o "jardim da infância".

Meu diplona foi assinado por José Maria Paschoalick, então seu diretor e eu o ostento com orgulho na parede do escritório. Professor emérito, exemplo de homem público e cidadão embuido de sentimento de nacionalidade, liberdade e princípios democráticos que nos transmitia semanalmente, durante a cerimônia de hasteamento da bandeira.

Lembro que nesse periodo, a cidade se envolvia nas festividades da "Semana da Pátria". Certamente, os estudantes eram os mais motivados, diante da possibilidade do desfile cívico - mais especial quando escolhido para integrar a fanfarra - disputas esportivas e concurso de "canto orfeônico", transmitido pela ZYS7 - Rádio Clube de Ourinhos.

Cartazes eram distribuidos e fixados em locais de destaque, com anúncio dos principais eventos. O comércio se engalanava, as bandeiras eram hasteadas nos prédios públicos, bancos e estabelecimentos industriais e comerciais de maior expressão.

Mas nada superava a rivalidade existente entre o "grupão" - Jacinto Ferreira de Sá - e o "grupinho " - Virgínia Ramalho, quer nas disputas desportivas, como no concurso de melhor "canto orfeônico".

No que diz respeito aos desfiles, o Colégio Santo Antônio, com predominância feminina, era quase imbatível - pela organização e beleza plástica de suas apresentações - sempre sob o comando seguro do "Cabo Arlindo".

As singelas corridas "do saco" - onde o atleta era obrigado a percorrer certa distância com as pernas enfiadas num saco de linhagem - ou "do ovo" - logicamente, o vencedor era quem chegasse em primeiro lugar, desde que mantivesse um ovo de galinha equilibrado na colher de sopa. Eram disputadíssimas e sempre acompanhadas por frenéticas torcidas organizadas, entoando seus versos - sempre provocativos, mas desprovidos de conteúdo ofensivos.

Pela manhã os estudantes eram mobilizados para o hasteamento da bandeira na Praça Mello Peixoto, acompanhado do canto do Hino da Independência (já podeis ... !). À tarde, praticamente todas as casas, sintonizavam a Rádio Clube de Ourinhos para ouvir a apresentação dos alunos - sempre sob a competente regência da professora Carmen (ou seria Alice) Abujamra. As escolas se revesavam nos dias da semana para essas participações. Guardo ainda, com o sabor de saudade, a minha última participação nos "jogos da semana da pátria". Foi no "monstrinho" representando o Tiro de Guerra no futebol de salão. O ginásio lotado, depois delirou com as meninas do Colégio Santo Antonio. A estrela do time de volei e basquete era uma religiosa, ainda noviça !

Com o decorrer do tempo, as mudanças absorvidas pelo conjunto da sociedade brasileira, com introdução de novos valores e outra concepção de vida; usos e costumes enraizados em nossa cultura foram se perdendo e somado aos descasos e frustações com sucessivas lideranças na governança das nossas cidades, estados e país, acabamos sucumbindo ao dissabor da descrença e desprezamos valores indispensáveis à unidade de um país, como nação !

Mesmo assim, neste 7 de setembro de 2006, ainda há muito a ser relembrado e comemorado. Registramos o Cinqüentenário do jornal "Folha de Ourinhos", o mais antigo periódico da cidade e região. Nada mais oportuno que homenagear a figura do senhor Miguel Farah, seu criador e fundador, destacando sua dedicação e luta em prol da democracia e na defesa dos valores nacionais !

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