sexta-feira, 8 de setembro de 2006

BIODIESEL - A VERDADE NÃO É BEM ESSA !

O Jornal de Piracicaba, edição de 07/09, estampa em manchete que o pequeno município de Charqueada, dentro de dois anos, estará produzindo 345 milhões de litros de biodiesel. Praticamente, atenderá 1/3 da demanda nacional do produto.

Para não usar outra expressão mais contundente, poderia apenas contestar a notícia dizendo ser ela "exagerada". Quando na realidade soa de forma falaciosa, por atentar contra o boa-fé do consumidor, diante de sua conotação de "propaganda enganosa".

É sabido que a região de Piracicaba, como pioneira mantém posição privilegiada na cadeia produtiva do álcool - utilizado, em suas versões hidratado e anidro, como combustível e aditivo da gasolina consumida no país e também exportado.

É bom lembrar, para alcançar esse estágio foram décadas de pesquisas, investimentos, frustações e dedicação ao negócio. Foi preciso vencer momentos de crises no setor. Enfretaram o desestímulo governamental, desvirtuamento de finalidade dos financiamentos, investimentos mal programados e até mesmo a perda de crebilidade, principalmente pela falta de competitividade do produto ou redirecionamento da produção para o açucar.

Entre as perdas e ganhos, a cana de açúcar acabou prevalecendo e, definitavemente, passou a ocupar parcela significativa da área agricultável da região piracicabana (?). Seu parque industrial, ainda que mais enxuto, auferiu ganhos de eficiência e produtividade - tanto na área de produção de equipamentos sucroalcooleiros, como na moagem da cana e beneficiamento dos seus produtos finais.

Havemos de reconhecer, para se chegar ao estágio atual, percorreram-se décadas e gerações se revesaram na busca desse ideal. Muitos desistiram e quedaram-se à beira do caminho. Apenas alguns - diríamos poucos - alcançaram o atual estágio do setor, prestigiado e garantido como opção energética, agora usufruem do sucesso e, consequëntemente, dos altos lucros advindos da persistência e continuidade do empreeendimento.

Agora, como num passe de mágica, surge o biodiesel. A priori não se pode descartar e muito menos inviabilizar a iniciativa, por sua importância enquanto opção futura na busca de nova matriz energética, já que os estudiosos prenunciam o esgotamento das reservas de petróleo em nosso planeta. Mas, até o momento não há como empolgar-se com essa proposta, diante das dificuldades para sua implantação com viabilidade econômica.

O Governo Federal o apregoa como bandeira ideológica, não só como redenção para nossa dependência externa - vide gás da Bolívia - na área da energia, chegando a cometer manifesto disparate quando o anúncia como "petróleo verde" que vai atender, futuramente, as necessidades energéticas do mundo.

O mesmo exagero comete o Jornal de Piracicba quando repercurte - em destaque - a versão que o município de Charqueada, dentro de dois anos, produzirá 345 milhos de litros de biodiesel, suficiente para atender 1/3 (um terço) da demanda nacional do produto. Salvo engano, o mesmo Governo Federal sugere a adição de até 5% de biodiesel, a curto prazo, no óleo combustível atualmente consumido pela frota de caminhões brasileiros.

Para decepção dos incautos, cabe registrar que estudos preliminares revelaram que seria necessária uma área agricultável bem superior àquela, atualmente, utilizada pela cana de açúcar para o plantio de oleaginosas destinadas à produção de biodiesel, exclusivamente, para atender a demanda incialmente aventada.

Por fim, cabe alertar que o BNDES, como órgão de fomento do Governo Federal, vem oferecendo subsídios para instalação de plantas industriais voltadas para a produção do biodisel - quiçá não estejamos assistimos ao revival do Proalcool, onde apadrinhados políticos e, oportunistas de ocasião, foram favorecidos e acabaram sucumbindo em situações nebulosas !

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