quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Ana Cepollina - recebe tratamento privilegiado !

É uma afronta ao entendimento do homem médio - quiçá aos pobres - quando o promotor de justiça afirma que no momento não se justifica a prisão da advogada Ana Cepollina, suspeita da morte do deputado Ubiratan, porque ela está colaborando com as investigações. Minta - falseie a verdade - que eu gosto ! Apenas para lembrar:- a advogada além de não confessar a prática do crime, ainda tergiversou sugerindo à investigação outros caminhos, inclusive a possibilidade de relações estranhas do deputado com morador - ou moradora - do mesmo condomínio; lavou ou providenciou a lavagem das roupas que trajava na noite do crime e ao exibir a blusa que usava, teria oferecido peça diferente com visível propósito de dificultar o trabalho policial; com o mesmo propósito procurou por todos os meios insinuar o envolvimento de outras pessoas, principalmente da delegada da PF; agiu com manifesta arrogância, impondo-se perante à imprensa, com visível intenção de inibir a ação do poder público - ao tentar passar-se por inocente; por último, mantinha em sua casa - isso em concurso com sua mãe - verdadeiro arsenal, que pode não revelar, mas indica conduta social belicosa. Apenas a guisa de registro, esta última situação foi vivenciada dez ou quinze dias depois da descoberta do crime. Em resumo, Ana fugiu do local do crime, fez desaparecer a arma utilizada, sonegou provas, afrontou todas as evidências ao negar estar presente no momento do dísparo, dissimulou e tergiversou, enfim - efetivamente não colaborou com a busca da verdade real. Agora, imagine uma empregada doméstica, moradora na periferia da cidade - ou qualquer outra pessoa de origem humilde - que viesse a se envolver numa situação análoga. Alguém tem dúvida que sua prisão provisória já estaria decretada na mesma noite - quando muito no dia seguinte - que o cadáver foi encontrado ? É de se estranhar que o apartamento da suspeita Ana Cepollina tenha sido alvo de busca apenas uma ou duas semanas depois do crime - isso, no mínimo, cheira à negligência ! Depois disso, surge o delegado afirmando "estou absolutamente convencido, não me interessam o conteúdo dos laudos restantes, que a advogada está envolvida na morte do deputado / coronel" - então porque não conclui que foi ela quem atirou contra Ubiratan ? Adiantam que ela será indiciada por crime de homicídio qualificado, pelo motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima - então o crime é hediondo e cabe a prisão temporária, quando imprescindível para completa elucidação dos fatos. É bom lembrar, que nessa altura além de presa, o "barraco" da empregadinha já teria sido varejado inúmeras vezes e raramente com o mesmo respeito ou cuidado dispensado ao apartamento das advogadas. Ainda poderíamos ir mais adiante, questionando o motivo da vida pregressa da suspeita não ter sido vasculhada, para se saber de seus hábitos, costumes e antecedentes sociais e, eventualmente, criminais - nem mesmo a imprensa, sempre diligente foi buscar essas informações. Sem qualquer dúvida, ainda que a constituição federal diga que todos são iguais perante a lei, o tratamento criminal dispensado ao rico ou social e/ou politicamente bem situado nesse país é comprovadamente privilegiado. Depois ainda querem encontrar, exclusivamente nas causas sociais, os motivos e razões pela predominância de pobres em nossas prisões. A indignação fica assim dirigida aos operadores do direito, porque as leis existem e valem indistintamente para todos !

2 comentários:

Anônimo disse...

Brilhante, caríssimo doutor. Direto. Claro. Objetivo. Elucidativo e acima de tudo didático.

Os leigos agradecem. Perdoe a "ausência" por algum tempo, ou a "hibernação" como citou um amiguinho europeu, mas já estou na ativa novamente.

Também fui vítima da violência urbana, de uma forma até mesmo irônica, como a tratou uma grande amiguinha meritíssima doutora juiza, que deu uma grande força pra gente reencontrar o rumo à seguir.

A ironia que ela assim denominou refere-se à alguns detalhes interessantes:

Local do assalto: RUA DA PAZ. Isso lá é lugar pra violência?

Horário: 6 da manhã, segunda-feira posterior ao feriadão prolongado da Independência. Isso lá é hora de vagabundo estar acordado? E o distinto cidadão não estava drogado, nem alcoolizado e demonstrou muita experiência na "arte".

Dia: 11 de Setembro. Bem, o meu ainda foi melhor que de muitos americanos.

Última: Um corretor de seguros, amiguinho do peito sugeriu: "Seu carro esportivo é muito bandeiroso. Na atual conjuntura melhor é andar num "carro de mãe", que é confortável e não desperta atenção dos malacos." Troquei o esportivo todo cheio de acessórios (até porque não tenho mais idade pra isso) pelo Meriva, o tal "carro de mãe". E foi justamente esse que me "batizou" pro rol da maioria dos paulistanos que já sentiram na pele o drama.

Foi extremamente traumático, pois estava com minha esposa, meu sobrinho (uma "criança" de 21 anos e 2 metros de altura a quem estávamos levando a um hospital por ter se sentido mal do final de semana todo) e minha cunhada, mãe da criança. Temi demais por eles no momento em que fui obrigado caminhar em direção indicada pelo meliante, enquanto estes ficaram sob a mira da pistola brilhante. Mas a providência divina se fez presente e nada de pior nos aconteceu. Ficaram apenas os prejuízos materiais e o stress pela extrema burocracia pra solicitar novos documentos pessoais, cartões de crédito, talões de cheques, etc.

Mas, no sábado anterior - dia 9 de setembro - estive em Salto Grande. Fomos à um baile numa Pizzaria nova que tem por lá. Encontrei-me com o Mário Perry. Há muito tempo não falava com ele. Foi bacana. Falamos muito sobre sua pessoa e ele me contou as história do apartamento da Mara.
Continuo atento ao seu blog e também na sua coluna da Folha de Ourinhos, porque agora a Emery me manda todas. Sou um admirador desse trabalho e acima de tudo imensamente agradecido por divulgar as coisas da minha terra.

Grande abraço,

Goulart

Anônimo disse...

Dr. Noel, faça minhas suas palavras. O senhor colocou no papel (ou na tela no computador) os meus pensamentos. Não sou policial nem tampouco tenho conhecimentos técnicos, mas estranhei muito a demora da polícia em fazer busca no apartamento da Carla. Tempo mais que suficiente de fazer excelente faxina.
É, depois de tudo isso somos nós, pobres advogados mortais, que temos que ouvir as reclamações acerca da justiça do nosso país. E o que é pior, concordar com tudo
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triste, muito triste.

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