sábado, 15 de março de 2008

O Prefeito Horácio Soares e as reservas brasileiras

Podem crer ! Houve tempo que os pais contavam histórias para os filhos. Nem sempre retiradas dos livros, como se tornou regra nos dias de hoje, muitas delas fundadas em experiência da vida pessoal ou passagens familiares. Nesse contexto, os assuntos do nosso cotidiano, incluindo religião, comportamento, atividades escolares davam o tom das conversas. Até mesmo a política integrava os diálogos domésticos. Os adultos assumiam suas posições com clareza - era comum nas residências a existência da fotografia de um líder político ocupando lugar de destaque - sem sofisma, mas com suas contradições.

Com isso, lá em casa nunca foi segredo que meu pai era "Getulista", sua raiz gaucha – vovó Anna nasceu em Carazinho-RS - falava mais alto. No Estado era eleitor cativo do Ademar de Barros, gratidão pela construção do Hospital das Clínicas. E no município sempre apoiou Horário Soares, enquanto político atuante. Com o retorno de José Maria Paschoalick, uma amizade antiga e freguês fiel no açougue, encontrou uma liderança para fazer frente ao "Barbozinha" e Carmelingo Caló, figuras que não gozavam da sua simpatia.

Sendo assim, a démarche da política municipal - recheada de vitórias, derrotas, críticas, elogios e campanhas desastradas - era acompanhada por toda a família. O assunto era recorrente, talvez por isso – meu irmão Aureliano, costuma dizer que os causus devem ser repetidos para não serem esquecidos - seus detalhes ainda são lembrados.

Certamente muitos ourinhenses ainda guardam na lembrança as práticas administrativas do prefeito Horácio Soares - evidente que não haverá unanimidade - alguns reconhecendo suas qualidades, principalmente a honestidade e retidão de propósito e outros lhe negando competência ou capacidade administrativa.

Mesmo depois de deixar a prefeitura – isso na década de 40 ou início de 50 - o líder popular continuou a participar ativamente da política ourinhense. As fotografias do José Carlos Neves Lopes registram a presença de Horácio Soares nos principais eventos políticos realizados na cidade – sua residência, nos altos da rua Arlindo Luz ou a sede da Fazenda Chumbiada, eram passagens obrigatórias dos seus aliados, talvez até dos adversários, sendo indispensável ouvi-lo, sua liderança sempre foi reconhecida e sua sabedoria respeitada - por último participou ativamente das campanhas do Ademar de Barros.

Evidente que sua figura cativante, bom papo, aliada à sua sabedoria, sempre ligado a atividade agrícola permitiram desenvolver sua vocação política, facilitando sua identificação com o grosso do eleitorado ourinhense – também, em sua maioria, oriunda do meio rural – que viam nele a figura do parceiro, vizinho ou mesmo do patrão.

A marca da sua gestão e principal caraterística de Horário Soares, por certo foi obtida na boa prática da agricultura – reservar recursos e provimentos de uma boa safra, para garantir a sobrevivência em períodos de "vacas magras" - racionalizando a aplicação dos recursos públicos, de forma a manter algum dinheiro nos cofres municipais, por certo antevendo algum período mais difícil adiante.

Existem controvérsias ! Mas, por décadas Horácio Soares carregou o estigma da falta de ousadia administrativa, as melhorias urbanas e embelezamento da cidade não teriam sido prioridade de sua administração – por exemplo, o calçamento somente teria sido implementado na administração do Cândido Barbosa Filho, o "Barbozinha" - talvez a educação e a racionalização dos gastos públicos foram suas prioridades.

Nesse quadro, a poupança realizada teria ocorrido em detrimento dos investimentos – por certo, como hoje, os recursos não eram abundantes, tampouco suficientes para atender todas as demandas - mantendo nos cofres municipais reservas substanciais. Talvez não houvesse aplicação financeira disponível, assim – comentam as más línguas - que Horário Soares teria socorrido a prefeitura de Avaré , que passava por dificuldades financeiras, mediante expressivo empréstimo – para os dias de hoje, uma situação irreal !

É bom lembrar que essa prática antigamente era muito comum entre os amigos e vizinhos.. Meu pai contava que um vizinho, famoso industrial da cidade, amigo de longa data - recentemente observei o seu nome como declarante no registro do óbito da minha avó Anna Cerqueira - costumava procurá-lo fora de horário bancário para que o socorresse com dinheiro vivo. Tudo na base da confiança - nem sempre recíproca, tampouco reconhecida !

Não é por acaso que faço a comparação da administração Horário Soares com o Brasil dos nossos dias – da administração petista. Reconhecidamente, o Governo Federal não é lá de ousar. E aproveitando período de "vacas gordas" e adotando práticas econômico / financeiras - duvidosas, segundo alguns analistas - o país acabou acumulando reservas internacionais, em moedas estrangeiras, principalmente dólares, nunca antes imaginável.

Afastado os defeitos de caráter, aparelhamento do Estado e favorecimento dos parentes e correligionários, o governo petista e o prefeito Horário Soares têm a aproximá-los a falta de aptidão para avançar na melhoria da infra-estrutura e dificuldade de gestão da máquina administrativa. Ambos optaram por garantir os cofres abarrotados, ainda que a custa de uma visão obtusa do desenvolvimento, preferindo manter cativo expressivo segmento da população, que por certo lhes garante o voto em futuras eleições.

Além de outros aspectos, ainda têm a diferenciá-los, a formação moral e experiência de vida do prefeito Horário Soares, sua conduta correta, construiu sua vida política através do trabalho e seus propósitos republicanos nunca foram contestados. Enquanto agora assistimos o presidente petista ignorar os crimes praticados por seus pares, envolver-se em confronto com os demais poderes da República e ainda festejar o enriquecimento de seus familiares por meios, digamos, não convencionais.

Sabemos que administrar não se resume apenas a uma questão de opção – no caso econômico-financeira, se traduzem nas reservas e no plano político-eleitoral, nos deparamos com a bolsa-família - podendo concluir que Governar é bem mais que isso, estabelecer prioridades e gerir com eficiência os recursos públicos, seguramente faria parte desse rol. Evidente que realizar empréstimo ou garantir dívida de outrem, em geral não diz respeito ao interesse público - antes o socorrido foi a cidade de Avaré, agora os Estados Unidos da América.

Assim como ocorreu com o prefeito ourinhense, apenas o decorrer do tempo mostrará os eventuais equívocos - Ourinhos ainda encontrou tempo para buscar o seu desenvolvimento, principalmente urbano, com outros modelos administrativos - do governo petista, cabendo aos eleitores brasileiros escolher como seus futuros governantes, além de gestores eficientes, pessoas verdadeiramente honestas e capacitadas a levar o Brasil encontrar finalmente o seu futuro !

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