sábado, 5 de maio de 2007

MARIO BRANCO - CIDADÃO ATUANTE

O conheci como funcionário do Centro de Saúde e freguês do açougue do meu pai. A família do casal Mário e Helsinque habitava uma confortável casa da rua Amazonas - com varanda na frente, muitas plantas e amplo quintal nos fundos. Seus filhos "Marinho", Zoé e Yara, conviveram e integraram as gerações dos meus irmãos - eu, apenas observava a beleza das duas jovens.

A par de sua atividade na área da saúde pública - funcionário dedicado e muito respeitado na comunidade - Mário Branco interveio, durante décadas, praticamente em todas as manifestações da comunidade ourinhense - tanto política, como cultural e esportiva..

Um dos primeiros textos publicados na Folha de Ourinhos, descrevi a paixão de dois torcedores pelo Esporte Clube Operário - sob o título "Exemplos de Torcedores" - um daqueles personagens apresentava o perfil do Mario Branco de outrora, ainda boêmio e irreverente. O outro, por questão de eqüidade tenho que revelar, era o senhor Evaristo, outro dedicado servidor dos Correios - do tempo que não havia carteiro, tínhamos que ir retirar as correspondências e os jornais diretamente no guichê da agência.

Já contei aqui, mas é sempre oportuno repetir - costumo dizer para os meus filhos, quando reclamam que estou repetindo a mesma história, que é para eles não esquecerem - ambos eram torcedores fanáticos do Operário e quando o time jogava, o resultado pouco interessava, era motivo para beberem até de madrugada e no banco da praça cantarolar "..vesti uma camiseta listada e sai por aí . . ." sucesso de Carmen Miranda.

Em outra época, o senhor Mário Branco - anterior ao movimento liderado pelo médico Morales, com participção do ferroviário Goezinho e do Ari Toledo, antes do sucesso cantando as misérias do nordestino, e outros... - mobilizou o círculo cultural ourinhense, dando ensejo à criação do primeiro grupo de teatro amador da cidade. Certamente, ainda existirão pessoas que tenham participado ou pelo mesmo testemunhado esse período fértil da cultura ourinhense.

A política foi outra paixão do ilustre ourinhense, sempre participativo - as fotografias do amigo José Carlos, na coluna Recordando...retratam ! - com sua indefectível gravata borboleta, sempre atento aos movimentos populares, mas suficientemente crítico para não se deixar cair na tentação de se expor em disputas menores - como a preservar a sua inteligência e concepção de vida.

Certa ocasião, passando pelo açougue do meu pai fez a encomenda da carne de costume, mas pediu que fosse entregue em sua casa. Dizia estar a caminho da Delegacia de Polícia com a disposição de falar com o delegado sobre a "Congada". Para quem não conhece:- trata-se de uma manifestação da cultura e religiosidade africana, que o pessoal da "Gruta Baiana", tradicional família da rua Pedro de Toledo, costumava realizar com competência e seriedade.

A aguçada curiosidade do meu irmão Aureliano, ainda adolescente, o levou a tomar da bicicleta e acompanhar a comissão até a delegacia. Ainda na porta, o delegado de polícia ouviu as ponderações do prestigiado cidadão - Aureliano assegura, mesmo a distância ter ouvido o delegado recomendar que não teria problema realizarem os cultos, desde que não batessem o tambor até muito tarde.

Com isso, o senhor Mário Branco que já havia participado do maior feito do Esporte Clube Operário no Campeonato de 1949 - quando o time capitaneado pelo goleiro Gimenez, sagrou-se campeão do interior - depois deflagrado e liderado as primeiras iniciativas do teatro amador em Ourinhos; daquela vez empenhava-se na defesa do sincretismo religioso - sempre presente nas manifestações culturais ourinhense.

Espero que ainda hoje, seus descendentes mantenham viva a tradição e continue realizando a "Congada" - importante manifestação da negritude ourinhense, sempre representada pela inesquecível e saudosa "Gruta Baiana".

Aliás, a diversidade cultural do senhor Mário Branco era conhecida e já vinha demonstrada pelos nomes escolhidos para suas filhas Zoé e Yara, não só pela beleza e sonoridade, mas certamente como homenagem e respeito à cultura indígena.

Como no samba - morre o homem e fica a fama !

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