quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

A TEORIA DA SÍSTOLE E DIÁSTOLE - PRECONIZADA POR GOLBERY

O fenômeno, em geral, ocorre em períodos de turbulências políticas, onde a busca do poder se escancara e revela a fragilidade da organização institucional dos países sulamericanos, cuja história não revela afeto à tradição democrática - nem mesmo se encontra arraigada no sentimento de seu povo.

Alguns estudiosos, atribuem essa alternância de sentimentos à falta de sensibilidade das suas elites - intelectual e econômica - e da inércia de suas populações, fruto da pobreza como resultante da ignorância e humilhações seculares a que são submetidas.

Assistimos, desde a eleição do presidente Luiz Ignácio e ascensão de Hugo Chavez; passando pela consagração do cocaleiro Evo Moralez e do sandinista Ortega, para alcançar a posse do jovem-esquerdista Rafael Correa, na presidência do Equador, a evolução desse fenômeno político - aliás, nosso conhecido de longa data.

Certamente, foi na seara político/institucional que o general Golbery do Couto e Silva, tido e havido como ideólogo do regime militar, quem melhor definiu as alterações governamentais dessa natureza.

Como ave de rapina, apropriou-se de conhecimentos da ciência médica para estabelecer um parâmetro dessa situação. Buscando na movimentação dos músculos cardíacos na tarefa de receber o sangue venoso para depois impelir o sangue arterial, através da sístole e diástole, como figura ilustrativa do seu pensamento.

Detentor de excelente formação intelectual e reconhecidamente sagaz, provido de inteligência incomum, o ex-chefe da casa civil do governo Geisel - mentor da abertura lenta e gradual - costumava justificar o enfeixamento do poder nas mãos do presidente da república, comparando esse comportamento político / administravo de um país aos movimentos do coração.

Sugeria que na sístole, onde a retração do músculo cardíaco se manifesta por movimentos bruscos e sistemáticos, estaria a representar a concentração do poder nas mãos do chefe do executivo - em detrimento dos demais poderes.

Diante dos últimos acontecimentos, não há como negar que o comportamento dos políticos recém eleitos ou reeleitos vestem com perfeição o figurino descrito pelo lendário militar, em qualquer um deles - ou, praticamente em todos.

À guisa de nosso conformismo restará aguardarmos resignadamente a ocorrência da diástole - momento que o músculo cardíaco relaxa e se descontrai permitindo o retorno do sangue venoso ao coração - mais ou menos como ocorre no restabelecimento da normalidade democrática, período que os demais poderes recuperam lenta e progressivamente a sua competência constitucional - quando permitido ou buscado, evidentemente.

Pelo sim ou pelo não, estamos a vivenciar interessante, por preocupante quadra da vida institucional sulamericana e o registro se torna oportuno - exclusivamente, como lembrança - para que a história, mais uma vez, não se repita sob o nosso auspício !
(publicado no Diário de Assis em 07/02/2007)
(publicado na Tribuna do Vale em 10/02/2007)

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