terça-feira, 2 de janeiro de 2007

"Bicos" podem desaguar nas "milícias"

É lamentável, mas resulta da simples constatação. Os famigerados "bicos" realizados pelos policiais estaduais e guardas civis municipais, tolerados pela administração pública e remunerados pela população, acabam dando origem às "milícias". Depois de aposentado, continuei residindo na cidade de Piracicaba por alguns anos (1996/2002) e, por mais de uma vez, fui procurado - Bairro Santa Cecília - tanto por guardas civis, como por policiais militares, que se ofereciam para prestar serviço na vigilância noturna daquele núcleo residencial. Ponderando que não via com bons olhos aquela atividade paralela - lembrei aos dois grupos ser impossível servir, com eficiência, a dois senhores ao mesmo tempo e que uma das atividades iria perecer. Na ocasião, coloquei-me à disposição para auxiliá-los, em alguma situação de emergência, caso obtivessem a adesão dos moradores, exclusivamente por solidariedade comunitária. Na época, já antevia a possibilidade dessa concorrência - e até mesmo rivalidade - entre os servidores dispostos a prestar esse tipo de serviço, suprindo deficiência do serviço público que lhes cabia oferecer por dever de ofício, tornar-se uma atividade profissional paralela. Muitas vezes assistimos policiais servindo de segurança em clubes, supermercados, padarias, farmácias, shows e outros eventos, mas também para encobrir malfeitos - pequenas infrações nos clubes, sonegação fiscal nos supermercados e até mesmo ilícitos mais graves. É só averiguar a inexistência de infrações criminais nesses locais de grande fluxo de pessoas ou situações prosaicas serem conduzidas de forma distorcidas Tornou-se até comum a morte de policiais nessas situações. Por isso, não causa surpresa alguma conhecer das "milícias" - trata-se apenas de uma questão de escala - como essas que agem nos morros cariocas. Em outros termos e sob moldes diferentes, não será difícil encontrarmos - grupos e organização da mesma espécie - atuando nas mais diferentes cidades paulistas e brasileiras, sob pretexto de vender segurança.

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