sábado, 27 de setembro de 2008

Ainda não estamos a salvo da experiência bolivariana

Esgotado há décadas o modelo da revolução cubana, onde a esquerda buscava o poder através da força - via guerrilha - passou a ser difundida a idéia do poder ser buscado através dos instrumentos oferecidos pela democracia representativa. Então essa possibilidade passou a ser empregada ideologicamente sob as mais diferentes meios e formas de ação. No Brasil, esgotado o modelo estudantil e intelectual, o alvo foi a organização sindical - as lideranças tradicionais, tidas como pelegos, passaram a ser substituídas sob influência da igreja progressista e da intelectualidade, engajadas ou não - os "Joaquinzões" deram lugar aos "Paulinhos da Força". A mesma forma de proselitismo político / ideológico alcançou o segmento social denominado "sem terras", conseguindo mobilizar os indivíduos sem qualificação profissional, alguns oriundos do êxodo rural e muitos marginalizados pelo desemprego, que passaram a proliferar nos arrebaldes das cidades com as seguidas crises econômicas que a sociedade brasileira enfrentou. Em outros países sulamericanos, como a Bolívia e Equador, o movimento utilizou como massa de manobra os grupos étnicos marginalizados ou mesmo alijados da atividade produtiva, como aconteceu com os índios bolivianos. Também na Venezuela a pobreza e má-distribuição de renda, aliada à corrupção e malversação das riquezas oriundas do petróleo, também ensejou a ascensão política de um militar demagogo, imbuído de valores nacionalistas, com proposta de um novo modelo social calcado no militarismo exacerbado e avesso às regras democráticas. Com isso, lideranças com perfil autoritário, acabaram alcançando o poder através do voto e depois, empregando métodos autoritários, atropelando a democracia representativa, passaram a utilizar-se da consulta direta (plebiscito) e com isso suprimir regras e promover inovações constitucionais, com propósito de descaracterizar o regime democrático, impondo um regime de força. Também no Brasil, com a eleição de um petista, ex-sindicalista, esse pensamento alcançou o poder central - a experiência do operário na direção do país - através do petismo, os atentados contra as regras democráticas se repetiram. Primeiro, tentou impor à imprensa regras que limitavam a sua liberdade de atuação e, por conseguinte, da informação. Depois vieram outras, como aquela de subjugar o legislativo através do aliciamento, mediante a compra de consciência e pagamento com dinheiro oriundo dos cofres públicos - felizmente, acabou desaguando no "mensalão", "compras de dossiês" e "dólares na cueca". Hoje vivemos o estigma do terceiro mandato, fruto do assistencialismo desbragado promovido por um governo de caráter populista, que busca com isso abolir a alternância do poder - a oposição está à míngua, sem uma bandeira política e desprovida de liderança expressiva. Embora haja alguma resistência, a qualquer momento, o petismo poderá fazer valer sua maioria no Congresso e aprovar a "toque-de-caixa" a sonhada consulta popular que autorize a reeleição sucessiva - como está em vias de ocorrer na Bolívia, Equador e Venezuela. Mesmo afastada a possibilidade do terceiro mandato, ainda assim viveremos a possibilidade da eleição de outro petista (ou petista) cujos propósitos estarão sempre voltados para atender interesses escusos, nunca republicanos. Haveremos de estar atentos para que isso não acontece - a alternância no poder é garantia constitucional e a certeza de não ficarmos reféns de nenhum regime ou sistema governo autoritário!

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