sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Os Filhos do Capitão Pedro

Sempre afável no trato pessoal e no seu cotidiano social. No ambiente familiar revelava uma figura serena, liberal e segura na orientação e educação dos filhos. Em nada confirmava a fama de militar durão na orientação e instrução dos atiradores do Tiro de Guerra, que comandou por décadas. Cultivava com clareza valores de civismo e defendia com ardor os valores nacionais - por vezes intervinha, ora para determinar a posição da bandeira hasteada na estação ferroviária fosse corrigida ou para exigir que o cidadão tirasse o chapéu na passagem daquele símbolo nacional - mas sem perder a razão. O censo crítico aguçado, desprovido da xenofobia então comum em seus pares, tampouco se dispunha a um ufanismo exacerbado.

A sua prole - ao que me recordo - era constituída por quatro meninos e uma linda menina, que certamente se tornaram cidadãos respeitados, não só honrando a dinastia Coppieters, como também levaram consigo a carga de valores morais e culturais - por exemplo, o hábito da leitura era adotado pelos membros daquela família - por ele difundidos na forma de educação.

Curioso que a disciplina e respeito que emanavam daquele círculo familiar não impediam que os filhos do Capitão Pedro crescessem e desenvolvessem como crianças normais. Mantinham intensa relações de amizade com a gurizada do bairro e da escola, participando ativadamente das brincadeiras, esporte e não se furtando das naturais aventuras juvenis - nadar e comer goiaba da chácara do Cristoni ou montar nos cavalos do seu Theófilo - sendo a sede do Tiro de Guerra, ainda na avenida Jacinto Sá, nos períodos de recesso de suas atividades, um local de diversão. Os bancos de madeira eram empilhados num canto e as baionetas se transformavam em nossas espadas, mas com o cuidado de não desembainhá-las.

Acho que Pierre, o filho mais velho, com seu jeito tímido e ar de intelectual, contemporâneo dos meus irmãos Aureliano e Tércio - no antigo Instituto de Educação - não se expunha como seus irmãos Percival, Péricles e Percy. Apreciava mais um papo inteligente, voltado para a literatura e política. Eloina (ou seria Heloisa?), cujo nome era homenagem à mãe dos mais velhos, além da inteligência como herança familiar, seguramente sua meiguice juvenil deve tê-la tornado numa bela mulher.

Além do Pierre, seu irmão Percival foi outro freqüentador assíduo da nossa casa. Com Péricles fui me encontrar apenas mais adiante - como concorrentes para ingresso no antigo Banco do Comércio e Indústria - evidente que sua superioridade intelectual e melhor instrução superaram as minhas parcas qualidades de goleiro do time de futebol do Comind. Depois voltamos a conviver durante o período de instrução no Tiro de Guerra, coincidente na mesma sede onde brincávamos quando crianças.

Depois de reformado, o capitão Pedro Coppieters foi morar em uma confortável casa na rua Gaspar Ricardo - bem próximo do Campo do Nacional - onde a liberdade dos seus filhos foi ainda maior. Era no quintal ou na rua As brincadeiras continuaram a se desenvolver, agora no quintal ou na rua,geralmente tranqüila. Registro que certa feita, manifesta liberalidade do pai-militar, surgiu um par de luvas de boxe - a cor era vermelha - nas mãos da molecada. Então cada oponente usava apenas uma luva. Acabei levando a pior ao me defrontar com um menino canhoto, morador na vizinhança.

Felizmente, a sabedoria e experiência de vida do capitão Pedro não foram desprezadas. Penso que a comunidade ourinhense soube reconhecer e valorizar, não só o caráter do profissional respeitado e chefe de família exemplar, mas suas qualidades de cidadão prestante, tornando-o paradigma das boas causas públicas. Pelo seu exemplo de vida e excelente estrategista, revelou-se em sábio conselheiro, sempre disposto a ouvir e emitir sua opinião a respeito de algum problema ou situação.

Enquanto isso seus filhos, com a mesma liberdade como foram criados, cada uma a seu modo, foram buscando a independência e realização pessoal. Fiquei sabendo, através do meu irmão Aureliano, que o Pierre tornou-se competente e respeitado médico. Infelizmente, nossas passagens pela cidade de Palmital ocorreram em períodos distintos. Gostaria imensamente de tê-lo encontrado. Com ele convivido e cultivado saudável relação familiar. Quanto ao Percival, o mais extrovertido, ingressou no Banco do Brasil, através daqueles difíceis, por concorridos, concursos públicos, onde certamente realizou brilhante carreira.

Logo depois do Tiro de Guerra - turma de 1964 - mudamos para São Paulo e perdi o contato com os Coppieters. Não tive mais notícia do Péricles, para o pessoal mais próximo, o "Chico". O então garoto Percy e a bonita Heloisa (ou Eloina, minha irmã Dinorá insiste nesse nome), como os demais passaram a ser figuras recorrentes em nossas boas lembranças!

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Noel
Encontrei na Internet essa sua crônica sobre os filhos do Capitão Pedro, filhos estes com quem tive uma grande convivência quando morei em Ourinhos de 1959 a 1967, estudei no Instituto de Educação Horácio Soares e na Escola Técnica e Comercial de Ourinhos.
Percival (que chamava de Canelão) foi grande amigo meu, inclusive trabalhei com ele no Banco Mercantil de São Paulo, até ele passar no Banco do Brasil e mudar-se para São Paulo (Ag. de Santo Amaro). Encontrei-me com ele algumas vezes em São Paulo, até fui a seu casamento, por volta dos anos 70 com uma sua colega do Banco do Brasil, depois perdi contato e nunca mais o encontrei.
O Pierre (cujo apelido era capitão), irmão mais velho, ensinou-me a jogar xadrez e com ele e outros colegas jogávamos carta no prédio do Bradesco, onde existia a Associação Comercial, onde o Capitão Pedro era secretário. Fiquei um chateado quando a pouco li em MEMORIAS OURINHENSES, uma ata do GERB elaborada pelo Jeferson Del Rios, que o Pierre faleceu.
Em 1967 fiz uma viagem a passeio, com o Percival pelo Rio Grande do Sul e paramos em Curitiba, para entregar uma encomenda para o Pierre, fomos até a sua pensão, mas não encontramos.
O Péricles (que eu chamava pelo seu apelido Chico) que trabalhava no Comind, encontrei-me com ele várias vezes em São Paulo e inclusive fui com ele no Morumbi em jogo do Corinthians, após o que perdi contato com ele.
Com o Pércio, tive poucos contados e uma vez encontrei-me com ele, somente uma vez na Av. Paulista, próximo ao Museu e Arte e ele estava vendendo um livro de poesia de sua autoria.
Os outros filhos do Capitão, Percy e Pedro (Pedrinho) eram pequenos e eu não tive muito contado com eles.
As filhas creio que eram duas, uma Eloina, em cujo casamento em Ourinhos, com rapaz de Bauru, eu compareci. Uma vez o Péricles, levou-me na casa de sua irmã, que ficava, aqui em São Paulo, em uma travessa da Av. Rudge. A outra menina era pequena e eu não me recordo de seu nome, só sei que começava com a letra E.
Noel, não me recordo de você, tive muito contato com seus irmãos, Aureliano e Tércio uma vez reuníamos na Praça Melo Peixoto, aos sábados e domingos à noite, bem como outros colegas da época – Jeferson de Rios Vieira Neves (o português), Ari (Preto), Pierre (Capitão), Péricles (Chico), Percival (Canelão), Farid, Salim, Maeda, Roberto Pelegrino, Dirceu Bento, José de Arimatéia, Alfredo e Joaquim Bessa, Luiz Fiori, Carlos Alberto Paschoalino (Caxixa), Aníbal, José Maria (que trabalhava na Rádio), Euclides e Agenor Rossignoli e outros.
Vou parar por aqui, pois acho que já estou te enchendo, com essas antigas recordações.
Caso você achar interessante e responder este correio, trocaremos algumas outras informações e lembranças do passado.
Atenciosamente
Vicente de Paula Borges
vicentepborges086@yahoo.com.br

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