Idealizado como fomentador do esporte, então amador, e voltado para a integração das comunidades, percebo - diante de algumas faixas espalhadas pelas ruas das cidades do interior paulista - que os jogos regionais alcançam a sua 51ª edição sem despertar as antigas mobilizações e engajamentos das comunidades por onde passa.
Com algum senso de observação crítica, sou levado a recuperar na memória os jogos regionais realizados na década de 50, na antiga Média Sorocabana - então envolvendo as cidades a partir de Botucatu até Presidente Prudente. Ourinhos sediou os Jogos Regionais de 1958 - ou teria sido Assis, a cidade-sede daquele ano?
É certo, que tanto uma como a outra cidade, se mobilizaram intensamente para demonstrar a melhor organização. Ourinhos inaugurava o "Monstrinho", mesmo não estando totalmente concluído - os vestiários exibiam paredes de madeira. Não só o Poder Público se dedicava à realização do evento, mas toda população se engajava e participava.
Em geral, a cerimônia de abertura era precedida de desfile, como a convidar a população para a grande festa do esporte. Ainda que houvesse a supremacia das cidades consideradas maiores - Botucatu e Presidente Prudente dominavam o atletismo, natação - sempre existia a possibilidade de outras comunidades - como Ourinhos, Assis, Regente Feijó e outras - conquistarem medalhas em esportes coletivos e até mesmo esporádicas conquistas individuais.
Mesmo assim, a expectativa da vitória existia e as competições transcorriam - ainda que houvessem embates homéricos, inclusive há registro de jogos que não alcançaram o seu termo e pelo menos uma cidade da região foi punida com suspensão - de forma intensa, mas dentro do espírito pregado pelo Barão de Coubertin - o importante é competir - a maioria, como agora, sempre participou como mera figurante.
Evidente que em determinado momento, diante do seu esvaziamento, os Jogos Regionais sofreram algumas alterações. As regiões do Estado de São Paulo foram redistribuídas - algumas cidades ganharam projeção em detrimento de outras que sofreram com a desativação das ferrovias - enquanto era estabelecido limite de idade para os atletas, com objetivo de incentivar a renovação e vedar, de alguma forma, a interferência do poder econômico.
Coincidentemente, este ano a cidade de Guarujá sediou os Jogos da sua região administrativa, envolvendo basicamente as cidades do litoral-sul. Com isso, pude observar e acompanhar mais de perto a movimentação desse evento esportivo. Constatei que a comunidade local manteve-se ausente - nem mesmo a presença de turistas durante as férias escolares despertou algum interesse pelas disputas esportivas. Apenas nas manhãs ensolaradas, foi possível notar alguma presença de público, nos jogos de vôlei na areia da Praia da Enseada. Suspeito que os ginásios, estádio e piscina ficaram restritos aos atletas, técnicos, árbitros e dirigentes.
À distância passei a imaginar e até mesmo cheguei a comentar com familiares e amigos, sobre a dificuldade de assistir um jogo de basquete, vôlei, futebol, handebol ou qualquer outra modalidade esportiva, envolvendo duas equipes sem maior aptidão ou técnica. Recordei então do confronto entre duas cidades pequenas da nossa região - envolvendo suas equipes de basquete e futebol de salão. A primeira cidade goleou a segunda no futebol de salão pelo escore de 20 a 3 e na disputada do basquete sofreu o revide com o placar de 4 a 2.
Com isso, quero demonstrar que os Jogos Regionais, nos moldes que vêm sendo realizado nos últimos 50 anos, pouco contribuiu - e se o fez, foi irrisória sua contribuição para a evolução do esporte no interior paulista - quer pelo formato da competição, por demais abrangente face a precariedade dos recursos material e humano na maioria das cidades, como pela sua realização anual.
Tal como ocorre com os jogos Olímpicos e Panamericanos, são poucas as cidades que possuem condições de sediar o evento - por conseguinte, a grande maioria fica alijada das disputas, por não dispor de equipamentos e instalações - tampouco, conta com atletas competitivos e recursos disponíveis para arcar com as despesas decorrentes.
Apesar disso, as pequenas cidades - por uma razão ou por outra, até mesmo vaidade de seus governantes ou levado por pressão da população e dos profissionais da área - anualmente montam suas equipes, em geral a reboque de contratações de atletas de outras cidades ou privilegiando filhos de políticos e correligionários (sem mérito maior), sem atentar para o alto custo do investimento e claro desperdício de recurso público, acabam representada ainda que de forma totalmente adversa ao espírito dos jogos.
Por outro lado, os resultados alcançados no decorrer de cinco décadas nos parece que foram - se não pífios - de pouca produtividade para o esporte paulista, levando-se em consideração o seu alto custo e sacrifício das comunidades envolvidas, mesmo aquelas que dispõem de instalações esportivas, equipamentos e recursos suficientes.
Há que se repensar o modelo - no ano passado a cidade de Ourinhos sediou os Jogos Regionais e amargou o quarto lugar na classificação geral, este ano, com uma delegação de 400 atletas, obteve pior resultado (5°lugar) - para se buscar a mobilização da juventude e motivar a prática desportivas há que se realizar disputas envolvendo equipes - e cidades - em igualdade de condições, de forma a poder disputar, não só para aquilatar periodicamente a evolução dos seus atletas, mas também despertar-lhes a disposição para superação dos seus limites.
Talvez incentivando e viabilizando a cada cidade, por menor que seja, buscar a sua vocação para determinado (s) esporte (s) - lembro que a cidade de Palmital, na década de 80 e 90, dispunha de uma conceituada equipe de natação, envolvendo praticamente toda comunidade e revelando grandes atletas - implementando de forma ordenada e organizada, onde os parcos recursos poderiam ser melhor aproveitados e os resultados certamente seriam concretos e visíveis.
Outra possibilidade seria a realização periódica de campeonatos, torneios ou simples disputas, envolvendo uma ou duas modalidades, de maneira a colocar em confronto cidades do mesmo porte - até mesmo para não desestimular as equipes ainda em formação ou sem o devido preparo - com vista a permitir que meçam suas potencialidades e possam evoluir tecnicamente, sem os constrangimentos e desperdícios de recursos atuais.
Sem a capacidade e disposição de esgotar o assunto, mas com a certeza de colocar, em algum momento, o tema em discussão, acredito que o incentivo para a prática desportivas - sempre respeitando as peculiaridades, capacidade e limites de cada município - passa pela viabilização de recursos aos mais carentes, implementação de atividades em nível estudantil, realização de competições restritas a determinadas modalidades e núcleos esportivos, contando com os Jogos Regionais (ou apenas Jogos do Interior), em períodos mais longos, onde certamente os resultados serão mais expressivos.