sexta-feira, 20 de abril de 2007

O ASSISENSE, QUE AMOU OURINHOS

Como ourinhense, morei, trabalhei e convivi com o povo assisense durante quinze anos - meus três filhos nasceram em Assis - e, com isso, percebi as nossas diferenças e também aprendi a gostar da cidade, sabendo destacar as suas qualidades.

Meus primeiros plantões de final de semana, ao contrário dos demais policiais - que já moravam na cidade - foram cumpridos entre o prédio da delegacia e a carceragem, onde conheci o senhor José Scarabello. Carcereiro à antiga - enérgico, cumpria e fazia cumprir o regulamento da cadeia. Atrás daquele homenzarão, alto e forte, com a cara de poucos amigos, encontrei uma figura humana admirável, receptiva, afável e amiga. Foi ele quem me contou a história do Luzo Santana, jogador de baralho inveterado, que não aceitava o cheque - emitido pelo próprio, como cacife - no momento de resgatar as fichas. Também aprendi com o velho Scarabelllo tomar coalhada no café da manhã.

Mais adiante travei conhecimento com seus filhos (cinco homens) mas foi com o Joaquim Scarabello Neto, a quem o pai se referia com orgulho antevendo seu sucesso profissional, que mantive contato mais estreito - posso dizer que fomos amigos. Além do trabalho, ainda tínhamos em comum o prazer pelo esporte, mesmo com embates memoráveis entre as Seccionais de Ourinhos e Assis - pura, idiossincrasia !

Acompanhei seus primeiros passos como delegado de polícia, ainda no município de Echaporã, onde angariou o respeito e simpatia da população. Jactava-se de ter se formado na Faculdade de Direito de Jacarezinho - já despontando como umas das melhores escolas jurídicas do país. Ainda assim, não se opunha em "trocar figurinha" e pedir sugestão sobre seus primeiros trabalhos - aliás, ainda guardo entre papéis amarelados um rol de expressões latinas que ele me passou.

Quando surgiu a oportunidade de se transferir para Maracaí, possibilidade de galgar classe superior, veio nos consultar - Alberto Sampaio, eterno escrivão de Maracaí, Antônio Melfa Neto e Reinaldo Pinheiro da Silva - sobre a conveniência da mudança com tão pouco tempo no cargo. É certo que já alimentava o projeto de trabalhar em Ourinhos, onde iniciou sua carreira policial e tinha como referência o perfil do delegado Cássio Leite, primeiro Seccional da cidade.

Naquela altura, já casado com Marilene, filha do senhor Nabor - introduziu o genro na arte de pescar - tinha a enfrentar a resistência do avô, contrário à mudança para Ourinhos. Nabor não se conformava ficar longe dos netos, primeiro o Ricardo e depois o Fábio. Folgo em saber que ambos seguiram a trilha do pai e tornaram-se policiais civis.

Embora tivesse o doutor Cássio Leite como referência, com quem trabalhara nos seus primeiros anos na Polícia Civil, Joaquim Scarabello encontrou um jeito pessoal de fazer polícia. Sua dedicação integral à profissão, capacidade de agregar, disposição para o diálogo sem perder a liderança, criando e inovando na arte de administrar recursos escassos, acabou produzindo uma nova filosofia de trabalho - calcada na honestidade, retidão de caráter e coragem para enfrentar as agruras do cargo e da vida. Por não admitir ingerência política ou de qualquer outra natureza, tornou-se referência no âmbito da polícia judiciária paulista - evidente que também contrariou interesses.

Com isso adquiriu a admiração e o respeito dos seus pares, bem como, a confiança da população ourinhense e da região, a quem dedicou a sua inteligência e disposição para o trabalho. Foi reconhecido, não só pela forma de ser - sua capacidade de cativar e de fazer amigos alcançou até mesmo eventuais algozes - mas, principalmente, pela sua maneira de agir como cidadão, chefe de família, autoridade pública e amigo !

Apenas lamento que essa mesma atividade policial que abraçamos e honramos, tenha nos levado ao distanciamento na busca de nossos horizontes, acabou dificultando contatos mais recentes - sempre uma celebração à amizade.

Por certo Joaquim Scarabello Neto, com seu jeitão peculiar, combateu o bom combate e deixa a dignidade do seu exemplo de vida !

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