domingo, 22 de abril de 2007

ENFIM, UM BOM NEGÓCIO

Foi mais ou menos com essa disposição que os dois jovens ourinhenses resolveram colocar em prática um projeto. Não tinha como dar errado, já que detinham todas as etapas da atividade - desde a fabricação do produto até a sua venda e distribuição, no atacado e varejo.

Jovens de boa formação, com alguma experiência de vida, oriundos de famílias tradicionais no ramo de comércio. Um deles, com ascendência japonesa, tinha bom conhecimento do Estado do Paraná onde passou algum tempo jogando futebol e nessas andanças aprendera o segredo do negócio. O outro, ao contrário sempre manteve a proximidade com o pai - dono da receita da melhor bisteca da cidade - concluiu os cursos básicos então existentes na cidade e recentemente havia deixado o emprego na antiga Sanbra.

A sociedade brasileira passava por um período conturbado e a economia dava sinais de inanição, sendo as oportunidades de emprego escassas. Entre uma rodada e outra de "vida" ou "mata-mata" - no snoocker do Yamaguti - surgiu a idéia. Evidente que a iniciativa foi do "japonezinho" que guardava a fórmula para fabricação do produto e dava sinais de conhecer o mercado onde demonstrava - mesmo não admitindo - já ter atuado.

No começo foi motivo de gozação e levada na brincadeira como proposta até certo ponto inaceitável para o nível daquelas pessoas. No entanto, o tempo foi passando e as dificuldades para obter um bom emprego foi escasseando, que o projeto voltou a ser discutido. E não é que acabou sendo colocado em prática !

Consistia na fabricação de "veneno para matar insetos" - com a capacidade para combater todos os tipo de insetos, embora nunca foi comprovado - mas sua eficiência no combate às "baratas" teria ficado demonstrado. O produto, embalado em papel de seda, na forma de "tabletes", exibia a cor de caramelo, com indicação para ser distribuído nos cantos da casa e outros locais estratégicos do imóvel, com propósito de afastar ou eliminar a presença de insetos.

Convencido o freguês, restava demonstrar que o produto não fazia mal à saúde - isso no caso de uma criança, tomada pela aparência e curiosidade, levá-lo à boca - cabia então aos diligentes vendedores, de forma corajosa "lamber" literalmente o produto, como a provar ser inofensivo. Nisso tomavam sempre a cautela de manter uma bala de hortelã - as antigas balas Pipper - sempre na boca, como meio de dispersar o gosto desagradável, assim como, a possibilidade de lhes trazer algum mal-estar, nunca descartada.

Depois de alguns dias - ou seria semanas - os dois amigos retornaram jactando-se do sucesso da empreitada. Discorriam com detalhes sobre o malabarismo que eram obrigados a praticar para a fabricação dos tabletes no quarto dos hotéis e a criatividade para vender o produto - quer nas esquinas, como nos pequenos pontos comerciais. Apenas se negavam a revelar a sua fórmula.

Admitiam que as passagens pelas cidades foram se tornando cada vez mais rápida e sem possibilidade de retorno, já que a eficiência do produto - altamente propagada - não perdurava além de curto espaço de tempo e, como isso, acabaram perdendo prestígio e credibilidade.

Ainda assim, teriam tomado gosto pelo comércio e, mais à frente, utilizando-se de uma Kombi passaram a distribuir uma linha de biscoitos fabricados na região de Campinas, que trouxe melhores resultados - pelo menos já podiam retornar ao local visitado para realizar novas vendas.

As décadas decorridas e a falta de contato me constrangem revelar os seus nomes, mas aqueles ourinhenses que os conheceram e / ou, por ventura, tenham freqüentado os bares de snoocker e outros locais menos afamados da cidade, certamente não terão dificuldades de identificar os dois personagens - a quem reservo essas gratas lembranças.

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