segunda-feira, 30 de abril de 2007

José Dirceu perdeu

A compra do controle da Telecom Itália pela espanhola Telefônica, salvo engano, foi uma derrota do mexicano Carlos Slim, apesar do empenho do petista José Dirceu. Esse episódio revela que o mundo dos negócios não é tão simples - a experiência política e passagem pelo governo federal não foram suficientes - e a assessoria do ex-ministro não foi suficiente ou pelo menos não deu o resultado esperado. Mesmo que o CADE venha examinar a possível concentração da Telefônica na telefonia móvel, o país respira aliviado por saber que o petismo ainda não tem o controle total sob os grandes negógios realizados no país - apesar de já ter criado uma elite de marchantes, como Luiz Gushiken, na área de fundos de pensão; Roberto Teixeira, na aviação comercial; Dilma, na energia; José Dirceu, no campo da telefonia e mineração. Estamos a deparar com uma nova casta de milionários brasileiros - os petistas. Aliás isso já aconteceu em outros momentos da história brasileira - o governo militar produziu os seus, até mesmo um capitão liderando a contravenção; a redemocratização outros tantos e a privatição muitos, na sua maioria tornou-se grandes investidores.

sábado, 28 de abril de 2007

Antecipação da menoridade - preocupação não se justifica

Parece que a discussão sobre o mérito da antecipação da menoridade penal já foi superada. Agora, os especialistas se preocupam quanto a aplicação do exame multidisciplinar que o adolescente será submetido - no caso da prática de crime hediondo - para ser responsabilizado criminalmente. Igual preocupação deveriam demonstrar quando defendem a realização de exame criminológico para condenados pela prática de crimes graves - quando tomam essa posição, parecem saber muito bem como, regra geral, são realizadas as avaliações do perfil psicológico dessas pessoas. Também seria o caso de se preocuparem como é feita a distribuição da justiça - não só no interior - em todo território nacional. Basta observarem como foi prolatada a sentença que condenou o colunista Diogo Mainardi e a revista Veja a indenizarem o jornalista Francklin Martins. Como diria o velho carpinteiro Teodoro - cego de uma vista - as vezes vale a pena arriscar um olho !

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Fechou o balanço da recuperação da Varig

O Superior Tribunal de Justiça acaba de condenar a União a indenizar a Varig em razão da intervenção do Governo Federal no preço das passagens - em tempos idos. Com isso, o Aerus, sem fundos; empregados despedidos, sem receber os direitos trabalhistas; e demais credores da empresa estão com esperança de ver atendido os seus pleitos. O juiz Ayoub - condutor da Recuperação Judicial da Varig, de forma inusitada - que viabilizou a venda de um segmento da empresa, sem permitir que o comprador levasse consigo o ônus dos encargos trabalhistas, deve estar respirando aliviado. Finalmente, vai ser possível encerrar o passivo da massa falida, através da benfaseja e oportuna indenização - parece até que estava combinado! Resta apenas lamentar que o prejuízo será da viúva - ou melhor, do contribuinte representado pela população brasileira.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Desculpe Manuel Alceu - mas os dois episódios não guardam relação

O jurista Manuel Alceu Alfonso Ferreira, em seu Terrorismo Jurídico (OESP/25/4 - só para assinantes), voluntária ou involuntariamente, descreve a atuação da polícia, ministério público e judiciário nesse episódio da Operação Furacão, como se fosse uma ação orquestrada contra integrantes da advocacia e do poder judiciário. O autor tenta generalizar uma situação que é pontual - se refere ao envolvimento desse pessoal com uma atividade reconhecidamente ilícita (bingo e caça-níqueis) e a evidente afronta das autoridades produzida pelos sinais exteriores de riqueza sem causa. Lamentável comparar sua posição com a do seu avô Alceu de Amoroso, em defesa dos intelectuais, diante do presidente Castelo Branco. O ilustre jurista, com sua imensa sabedoria, não haveria de ignorar que explorar o jogo - caça-níqueis - ofendia, não só a legislação penal brasileira, como o entendimento do homem mediano. Igual entendimento há de ser exigido do promotor de justiça, policial e ou magistrado - não haveremos de ser complacentes com esse tipo de comportamento. Por último, desculpe - mas em respeito à memória de seu avô - os dois períodos refletidos não guardam uma boa relação. O primeiro diz respeito à inteligência - onde opera o direito e a razão - o segundo, queda-se exclusivamente pela torpeza dos envolvidos - carcterizada pelo defeito de caráter !

Luiz Marinho - vai além do neoliberalismo

É realmente fértil a imaginação da elite do nosso sindicalismo, cada vez mais criativos e, geralmente voltados para o mal, não cansam de nos surpreender. Desta vez foi Luiz Marinho, petista, cutista e atual ministro da previdência, investindo contra a pensão por morte do trabalhador. Sua proposta de abolir a pensão vitalícia para a viúva e descendentes, ou substituí-la por um prêmio ou indenização, vai além de qualquer maldade que o chamado neoliberalismo poderia propor ou imaginar. Justificando que as pensões e licenças para tratamento de saúde oneram sobremaneira os corfes da previdência, o ministro petista / cutista ao invés de atacar a raiz do problema - aposentadorias prematuras, informalidade e má gestão - invade uma seara quase sagrada do direito previdenciário, representada pela garantia do trabalhador contribuinte assistir sua família mesmo em caso de sua morte. Como outras iniciativas do cutismo, podemos afirmar que esta é uma idéia infeliz! Outra é combater a Emenda 3 sabotando criminosamente os trens do Metrô paulistano.

terça-feira, 24 de abril de 2007

Franklin - o inconformado

O programa Roda Viva desta semana trouxe o jornalista Franklin Martins, chefe da Secom, inconformado com o comportamento da imprensa brasileira. Até parece que esteve durante os últimos anos atuando em outra área da atividade econômica nacional. Questionado, afirmou que defendia a implantação da TV Pública para dar a notícia e discutir os fatos com inteireza e isenção. Reclamou dos poucos minutos que dispunha para expressar suas opiniões quando trabalho na grande imprensa. Curioso foi ver o jornalista Franklin Martins atuando, principalmente na Rede Globo - certamente, com um salário que hoje lhe permite dispor na sua despensa de mais comida que pode comer e de mais roupa que pode vestir - sem ter reclamado, em nenhuma ocasião, das péssimas condições de trabalho. Mais curioso é vê-lo jactar-se de estar processando o colunista Diogo Mainardi e a revista Veja por tê-lo caluniado - seria o caso de indagar:- por que não processou a Rede Globo que o despediu exclusivamente pela repercussão do episódio? Revela apenas estar inconformado com o ocorrido e aceitou participar de um governo - que muitas vezes criticou e apontou equívocos - com a certeza de ir à forra contra seus assacadores, incluindo nesse rol a Rede Globo, ainda que não explicite. Como diria José Dirceu - verdadeiro parceiro em armas !

domingo, 22 de abril de 2007

ENFIM, UM BOM NEGÓCIO

Foi mais ou menos com essa disposição que os dois jovens ourinhenses resolveram colocar em prática um projeto. Não tinha como dar errado, já que detinham todas as etapas da atividade - desde a fabricação do produto até a sua venda e distribuição, no atacado e varejo.

Jovens de boa formação, com alguma experiência de vida, oriundos de famílias tradicionais no ramo de comércio. Um deles, com ascendência japonesa, tinha bom conhecimento do Estado do Paraná onde passou algum tempo jogando futebol e nessas andanças aprendera o segredo do negócio. O outro, ao contrário sempre manteve a proximidade com o pai - dono da receita da melhor bisteca da cidade - concluiu os cursos básicos então existentes na cidade e recentemente havia deixado o emprego na antiga Sanbra.

A sociedade brasileira passava por um período conturbado e a economia dava sinais de inanição, sendo as oportunidades de emprego escassas. Entre uma rodada e outra de "vida" ou "mata-mata" - no snoocker do Yamaguti - surgiu a idéia. Evidente que a iniciativa foi do "japonezinho" que guardava a fórmula para fabricação do produto e dava sinais de conhecer o mercado onde demonstrava - mesmo não admitindo - já ter atuado.

No começo foi motivo de gozação e levada na brincadeira como proposta até certo ponto inaceitável para o nível daquelas pessoas. No entanto, o tempo foi passando e as dificuldades para obter um bom emprego foi escasseando, que o projeto voltou a ser discutido. E não é que acabou sendo colocado em prática !

Consistia na fabricação de "veneno para matar insetos" - com a capacidade para combater todos os tipo de insetos, embora nunca foi comprovado - mas sua eficiência no combate às "baratas" teria ficado demonstrado. O produto, embalado em papel de seda, na forma de "tabletes", exibia a cor de caramelo, com indicação para ser distribuído nos cantos da casa e outros locais estratégicos do imóvel, com propósito de afastar ou eliminar a presença de insetos.

Convencido o freguês, restava demonstrar que o produto não fazia mal à saúde - isso no caso de uma criança, tomada pela aparência e curiosidade, levá-lo à boca - cabia então aos diligentes vendedores, de forma corajosa "lamber" literalmente o produto, como a provar ser inofensivo. Nisso tomavam sempre a cautela de manter uma bala de hortelã - as antigas balas Pipper - sempre na boca, como meio de dispersar o gosto desagradável, assim como, a possibilidade de lhes trazer algum mal-estar, nunca descartada.

Depois de alguns dias - ou seria semanas - os dois amigos retornaram jactando-se do sucesso da empreitada. Discorriam com detalhes sobre o malabarismo que eram obrigados a praticar para a fabricação dos tabletes no quarto dos hotéis e a criatividade para vender o produto - quer nas esquinas, como nos pequenos pontos comerciais. Apenas se negavam a revelar a sua fórmula.

Admitiam que as passagens pelas cidades foram se tornando cada vez mais rápida e sem possibilidade de retorno, já que a eficiência do produto - altamente propagada - não perdurava além de curto espaço de tempo e, como isso, acabaram perdendo prestígio e credibilidade.

Ainda assim, teriam tomado gosto pelo comércio e, mais à frente, utilizando-se de uma Kombi passaram a distribuir uma linha de biscoitos fabricados na região de Campinas, que trouxe melhores resultados - pelo menos já podiam retornar ao local visitado para realizar novas vendas.

As décadas decorridas e a falta de contato me constrangem revelar os seus nomes, mas aqueles ourinhenses que os conheceram e / ou, por ventura, tenham freqüentado os bares de snoocker e outros locais menos afamados da cidade, certamente não terão dificuldades de identificar os dois personagens - a quem reservo essas gratas lembranças.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

O ASSISENSE, QUE AMOU OURINHOS

Como ourinhense, morei, trabalhei e convivi com o povo assisense durante quinze anos - meus três filhos nasceram em Assis - e, com isso, percebi as nossas diferenças e também aprendi a gostar da cidade, sabendo destacar as suas qualidades.

Meus primeiros plantões de final de semana, ao contrário dos demais policiais - que já moravam na cidade - foram cumpridos entre o prédio da delegacia e a carceragem, onde conheci o senhor José Scarabello. Carcereiro à antiga - enérgico, cumpria e fazia cumprir o regulamento da cadeia. Atrás daquele homenzarão, alto e forte, com a cara de poucos amigos, encontrei uma figura humana admirável, receptiva, afável e amiga. Foi ele quem me contou a história do Luzo Santana, jogador de baralho inveterado, que não aceitava o cheque - emitido pelo próprio, como cacife - no momento de resgatar as fichas. Também aprendi com o velho Scarabelllo tomar coalhada no café da manhã.

Mais adiante travei conhecimento com seus filhos (cinco homens) mas foi com o Joaquim Scarabello Neto, a quem o pai se referia com orgulho antevendo seu sucesso profissional, que mantive contato mais estreito - posso dizer que fomos amigos. Além do trabalho, ainda tínhamos em comum o prazer pelo esporte, mesmo com embates memoráveis entre as Seccionais de Ourinhos e Assis - pura, idiossincrasia !

Acompanhei seus primeiros passos como delegado de polícia, ainda no município de Echaporã, onde angariou o respeito e simpatia da população. Jactava-se de ter se formado na Faculdade de Direito de Jacarezinho - já despontando como umas das melhores escolas jurídicas do país. Ainda assim, não se opunha em "trocar figurinha" e pedir sugestão sobre seus primeiros trabalhos - aliás, ainda guardo entre papéis amarelados um rol de expressões latinas que ele me passou.

Quando surgiu a oportunidade de se transferir para Maracaí, possibilidade de galgar classe superior, veio nos consultar - Alberto Sampaio, eterno escrivão de Maracaí, Antônio Melfa Neto e Reinaldo Pinheiro da Silva - sobre a conveniência da mudança com tão pouco tempo no cargo. É certo que já alimentava o projeto de trabalhar em Ourinhos, onde iniciou sua carreira policial e tinha como referência o perfil do delegado Cássio Leite, primeiro Seccional da cidade.

Naquela altura, já casado com Marilene, filha do senhor Nabor - introduziu o genro na arte de pescar - tinha a enfrentar a resistência do avô, contrário à mudança para Ourinhos. Nabor não se conformava ficar longe dos netos, primeiro o Ricardo e depois o Fábio. Folgo em saber que ambos seguiram a trilha do pai e tornaram-se policiais civis.

Embora tivesse o doutor Cássio Leite como referência, com quem trabalhara nos seus primeiros anos na Polícia Civil, Joaquim Scarabello encontrou um jeito pessoal de fazer polícia. Sua dedicação integral à profissão, capacidade de agregar, disposição para o diálogo sem perder a liderança, criando e inovando na arte de administrar recursos escassos, acabou produzindo uma nova filosofia de trabalho - calcada na honestidade, retidão de caráter e coragem para enfrentar as agruras do cargo e da vida. Por não admitir ingerência política ou de qualquer outra natureza, tornou-se referência no âmbito da polícia judiciária paulista - evidente que também contrariou interesses.

Com isso adquiriu a admiração e o respeito dos seus pares, bem como, a confiança da população ourinhense e da região, a quem dedicou a sua inteligência e disposição para o trabalho. Foi reconhecido, não só pela forma de ser - sua capacidade de cativar e de fazer amigos alcançou até mesmo eventuais algozes - mas, principalmente, pela sua maneira de agir como cidadão, chefe de família, autoridade pública e amigo !

Apenas lamento que essa mesma atividade policial que abraçamos e honramos, tenha nos levado ao distanciamento na busca de nossos horizontes, acabou dificultando contatos mais recentes - sempre uma celebração à amizade.

Por certo Joaquim Scarabello Neto, com seu jeitão peculiar, combateu o bom combate e deixa a dignidade do seu exemplo de vida !

quinta-feira, 19 de abril de 2007

SEBASTIÃO FARIA, MEU TIO

Assistir a passagem da Escola de Samba do "Cabo Joel" - acho que foi a primeira escola de samba organizada na cidade - e vê-lo integrando a ala da bateria, tocando cuíca, foi apenas uma das lembranças do marceneiro de profissão, boêmio por opção, bom papo, sempre rodeado de amigos e que soube viver o seu tempo de um jeito meio irresponsável.

Nosso parentesco, mesmo por afinidade, já que foi casado com a tia Noêmia, irmã da minha mãe, guardou uma relação de camaradagem, como devem ser as relações de tio e sobrinho. Aliás, fui pródigo nesse sentido - o tio Paulo, colchoeiro, decorador e parceiro de snoocker, foi outra relação inesquecível.

No seio da família, o pessoal contrário ao casamento, ainda hoje comentam que depois da cerimônia, "Bastião" tomou a noiva nos braços e a levou para sua casa - misto de moradia e oficina de marcenaria. Jogou o colchão sobre a bancada de marceneiro, eleita como a cama do casal.

Embora resignada e submissa, tia Noêmia não suportou as agruras de um casamento mal sucedido. Sebastião, como prometera - é bom que se diga - insistia em manter a mesma opção de vida de solteiro. Mesmo com duas filhas - Darci e Shirley - ainda bem crianças, tia Noêmia resolveu tomar a sua vida nas mãos e levou consigo as duas meninas. Buscou a cidade grande, onde trabalhou em casas de família e hotéis. Mesmo sozinha, criou as filhas e fez delas duas belas mulheres.

Enquanto isso, o tio Sebastião continuava a sua rotina de vida. Algum trabalho na marcenaria, que aliava às pescarias com os amigos e as noites nos bares da vida. Foi aí que viemos a nos encontrar com freqüência. O velho boêmio já não mantinha a vitalidade de antes, mesmo assim, cultivava o hábito do bom papo, sempre regado a um "traçado" ou "rabo de galo", nome mais popular da pinga com alguma mistura amarga.

É certo que não bebia, mas já cultivava o prazer de jogar snoocker - outros diziam que era vício, recentemente foi consagrado como esporte - e, como adiantei, passou a ser freqüente ter o Tio "Bastião" como assistente. Quando as coisas corriam bem, fazia questão de mandar servi-lo, como se fosse o meu talismã.

Os anos se passaram e nos distanciamos, mas quando do meu casamento, eu e a Orminda fomos levar o nosso convite. Como se o tempo não houvesse passado, fomos encontrá-lo junto da bancada de marceneiro praticando o seu ofício. Tomou o convite nas mãos e antes de abri-lo colocou sobre a mesa, para então indagar da noiva - como se a prevenisse de algum mal - você tem idéia do que a vida lhe reserva mais adiante?

Certamente, ainda tinha na sua mente a imagem daquele jovem imaturo, sem projeto de vida, que costumava encontrar nas noites ourinhenses. Evidente que lhe recorria a possibilidade de um casamento fracassado - como o seu. Orminda, com sua franqueza costumeira e demonstrando confiança em si mesma, admitiu que sabia do risco que corria, mas que resolvera assumi-lo. Logo acabou conquistando a simpatia do velho, mesmo porque tratava-se da filha da Teresa Padilha, vizinha e amiga da tia Noêmia - dos tempos do seu namoro.

Mais adiante, em nossas passagens por Ourinhos, não perdíamos a chance de visitar o tio Sebastião Faria, já muito doente e sem possibilidade de se locomover - quem dera exercer a sua profissão. Fiz questão que meus filhos o conhecessem e guardassem dele um exemplo diferente de levar a vida.

Num desses contatos, com alguma dificuldade de se expressar, relembrou nossos encontros e acabou revelando:-

- Eu tinha muito cuidado, por isso eu ficava vigilante assistindo você jogar snoocker até altas horas da madrugada.

Nada mais normal, enfim, era o meu tio!

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Soninha e o espaço no Estadão

Soninha, reconhecidamente jejuno em política, mas bem falante como todo comentarista esportivo, viu o mandato de vereadora cair em seu colo. Hoje, aparece ocupando um espaço imerecido no Estadão, apenas para revelar que o uso do cachimbo, mesmo por pouco tempo, já a deixou com a boca torta. Tenta justificar que os vereadores merecem verbas complementares para atender suas despesas, inclusive pra compra de cartuchos de impressora. Felizmente, ao tentar alçar vôo mais alto não foi eleita deputada. Ainda afronta o entendimento comum quando defende a necessidade do vereador dispor de espaço fora das dependências da Câmara dos Vereadores para atender a população - desde que não o utilize como comitê político. Como se o proselitismo, exploração de prestígio e apadrinhamento não fossem as ferramentas usuais do vereador para se manter no poder. Vereadora - não brinque com o nosso senso crítico!

quarta-feira, 11 de abril de 2007

AGOSTINHO RIBEIRO - POLÍTICO, POR CONTA PRÓPRIA

Nessas minhas andanças pela infância e adolescência - rica, no sentido de guardar lições para muitas vidas - com a disposição dos incautos, vou me aventurando a recuperar personagens e passagens, que me são caras, de um período da história ourinhense.

Sempre me pareceu que exercia a política como deleite. Dispunha de excelente propriedade rural nas margens do rio Paranapanema - se não me engano, na foz do rio Pardo (?) - onde, além da atividade agrícola, mantinha porto de areia com seus imensos batelões.

A par disso, dispunha do gosto pela política e a praticava "por conta própria" - sempre ocupando postos de direção e exercendo liderança pelos partidos que percorreu. Cumpriu mandato legislativo e suas idéias encontraram ressonância no perfil político de Jânio Quadros.

Não consta ter usufruído das benesses de sua relação com o poder e com os grandes figuras - tenho comigo, que combateu o "Ademarismo" e as eleições de Jânio Quadro e Carvalho Pinto, para o governo do Estado de São Paulo, tiveram o seu apoio e trabalho intensivo.

Embora parcimonioso nos gastos, não media esforço para manter sponte sua um comitê-político, por diversas campanhas, na rua Gaspar Ricardo, onde elegia o candidato de sua preferência para destacar e enfatizar as suas qualidades, através de cartazes, proselitismo e alto-falante.

Sempre viveu na rua Amazonas esquina com rua Goiás, primeiro em uma casa de madeira e depois construiu confortável residência em alvenaria. No quintal mantinha o seu depósito de areia e debaixo de uma frondosa árvore, o seu filho caçula - Paulo Ailton - encontrou o prazer de jogar basquete, insistindo em passar a bola por um aro qualquer. Tinha ainda o "Dedé" e o Nelson, moço religioso, que também tomou gosto pela política. A única filha (?) casada com Miguel Constant, dono de farmácia e que fez fama como "Pampa", jogando pelo ourinhense.

Tem uma passagem do Paulo Ailton que merece sempre lembrada. Certa feita, parou no açougue do meu para me mostrar um telegrama - era da direção do Vasco da Gama - convidando-o para integrar o clube carioca. Evidente que seus pais não permitiram que viajasse sozinho para o Rio de Janeiro. Além de grande arremessador, também foi excelente zagueiro central - dono de um potente chute. Sua "bicuda" no futebol de salão era indefensável.

Diferente da maioria dos políticos contemporâneos, o senhor Agostinho Ribeiro engajava-se na política com a crença dos puros. Acreditava nas pessoas e nessa atividade como realização do bem coletivo. Empunhava a bandeira que lhe parecia mais próxima dos seus anseios, como cidadão e lider político. Não media esforços e, como já foi dito, a exercia por conta-própria. Não consta ter obtido vantagem pessoal, nem mesmo seus filhos galgaram postos no serviço público - e olhe que seu prestígio sempre foi significativo !.

Como poucos, o senhor Agostinho Ribeiro exerceu a cidadania na sua plenitude e deve ser lembrado com admiração e o respeito merecido !

quinta-feira, 5 de abril de 2007

PAN não observa lei brasileira

É incrível ! Parece até brincadeira. Mas é a pura verdade. Os ingressos para os jogos Panamericanos não trarão o número do assento. Questionados, por contrariar regra do Código do Consumidor, os organizadores do evento alegaram que os Jogos Panamericanos não estão sujeitos a obedecer a lei brasileira. É ou não é incrível ! Seria o mesmo que dizer sobre qualquer outro ilícito que viesse a ocorrer no âmbito da sua organização, também não estaria sujeito às leis do país onde se realiza. Só pode ser brincadeira, mas a imprensa não repercutiu o assunto e, nem mesmo, os órgãos responsáveis - Procon e Ministério Público - se pronunciaram a respeito. Será que entendi mal?

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Antes os 18 do forte, agora os 18 do cindacta

A repercussão do imbróglio que o governo petista se meteu, quando desautorizou o Comando da Aeronáutico, além dos desmembramentos político/institucional, impediu a prisão de 18 controladores de vôo pelos crimes de insubordinação e motim. Igual número de militares, por razões mais plausíveis, também se insurgiram contra a ordem então vigente, nos idos de 1922, passando para a história como os 18 do Forte. Assim, como os controladores de vôo, que ocuparam as dependências do Cindacta I, o movimento "tenentista de 1922", ocupou o Forte Copacabana. Poucos sobreviveram ao confronto, mas tornaram-se heróis nacionais com é o caso do então tenente Eduardo Gomes, que se tornou brigadeiro e patrono da Força Aérea Brasileira, que ajudou a criar. Enquanto dos controladores insurgentes, todos acompanharão a desmilitarização do serviço, mas poucos integrarão o novo quadro e nenhum deles passará para a história como integrante dos 18 do Cindacta - por lhes faltar o direito e a razão.

DUAS SITUAÇÕES E ALGUMA SEMELHANÇA

Evidente que as duas situações não guardam semelhança quanto à sua origem e conseqüências. Mesmo assim, ainda é possível estabelecer alguns parâmetros, por envolver valores imprescindíveis à organização militar e trazer no seu bojo iniciativas e procedimentos próprios, por indispensáveis ao controle interno das corporações.

A situação presente diz respeito ao movimento dos controladores de vôo do tráfego aéreo brasileiro, que se protrai ao acidente com o avião da Gol, de triste memória, resultando na morte de 157 pessoas. A partir daquele triste episódio, a aviação civil nacional se transformou - mazelas da pior espécie, como sucateamento de equipamentos, falta de preparo e má remuneração foram denunciadas - em tormento para os administradores, empresas aéreas e, principalmente para os usuários.

Disso se aproveitaram os controladores de vôo para reivindicarem, não só melhores condições de trabalho - incluindo plano de carreira e melhoria salarial - como a desmilitarização do setor, com possibilidade dos graduados que atuam na área optarem pelo serviço civil. Deflagrado o movimento paredista, o Governo Federal interveio e desautorizando o comando da aeronáutica e, por conseguinte, quebrando as rígidas regras - hierarquia e disciplina - basilares do regime militar, fez promessas que certamente terá dificuldade de cumprir.

Esse episódio, particularmente me remete ao final da década de 60 - precisamente, outubro de 1969 - quando o governo militar, com visível propósito de centralizar o poder, resolveu unificar as policiais estaduais uniformizadas em apenas uma corporação, criando a Polícia Militar, subordinada ao Exército, nos moldes que funciona atualmente. Antes disso, no Estado de São Paulo, existia a Força Pública, Guarda Civil, Polícia Marítima e Aérea e Guardas Noturnas - além da Polícia Civil, que foi preservada, por sua função na persecução criminal.

Como ocorre nas fusões dos grandes conglomerados empresariais, a Força Pública, por sua tradição centenária - criada por Tobias de Aguiar, com o prestígio de ser marido de Domitila de Castro Canto e Melo, consagrada como a Marquesa de Santos - e, exibindo maior efetivo e fundada nos princípios do militarismo, nessa condição majoritária manteve a hegemonia e controle da nova corporação policial. Consta que houve resistência, inspetores da Guarda Civil, por trazerem consigo o espírito civilista, calcado na liberdade de expressão, teriam sido taxados de comunistas - alguns foram perseguidos, presos e expulsos da instituição - e tidos como insurretos.

Tal como acontece agora, a diferença entre o regime militar e civil ficou logo exposta. Evidente que os integrantes da antiga Força Pública, diante das regalias e benesses que eram beneficiários, em caso de lhes permitir o direito de opção - ou seja, não integrar a nova corporação - criaria dificuldades para a administração. Então, essa possibilidade - ou seria direito - foi logo vedada aos milicianos, certamente louvando-se no mesmo princípio que atualmente orienta o Ministério da Aeronáutica para impor resistência à demandada dos seus graduados especializados no controle aéreo.

Também como ocorre nesse episódio, havia a preocupação da Força Pública manter - não só o seu efetivo formado nas suas hostes, sob sua doutrina - como preservar o seu patrimônio e, sendo possível, ampliá-lo com os imóveis e acervo pertencentes as demais corporações. A Guarda Civil, por exemplo, dispunha de uma exuberante sede na avenida Higienópolis; hospital na rua Albuquerque Lins; serviço de fundos na avenida Angélica; sede social e outras tantas unidades. Apenas a sede foi revertida para a Polícia Civil, depois de servir como Gabinete do Secretário da Segurança Pública.

Aos integrantes da Guarda Civil foi dado o direito de opção. Lembro que o prazo era exíguo e as informações eram contraditórias, sempre voltadas para confundir e dificultar a escolha do policial. Salvo alguns dirigentes, o seu alto comando infundia medo e anunciava tempos difíceis para quem optasse. Falavam em um quadro em extinção, onde não haveria preservação dos direitos e até mesmo os vencimentos seriam congelados.

O prazo se exauria e os guardas civis com responsabilidades familiares - como ocorre agora com os graduados da força aérea - vislumbravam dificuldades, no caso de optarem, não só de caráter financeiro, como também na área de assistência médica, odontológica e caixa beneficente. Não satisfeito, o então comandante da Guarda Civil - coincidentemente, um coronel da aeronáutica - deliberou que os pedidos (opção) seriam entregues a ele pessoalmente, em cerimônia a ser agendada.

No estertor do prazo, sob a iminência de convulsão, a mesa receptora foi instalada. Já desprovidos de seus uniformes, adredemente recolhidos, os guardas civis-optantes, um-a-um foram sendo atendidos. Antes da formalização do pedido, mediante protocolo, ainda recebiam a advertência - na forma de um aconselhamento ou orientação - você sabe tem o que vai fazer, formalizando essa escolha?

Aqueles, ainda indecisos por questões familiares ou inseguros pela pressão sofrida, acabaram desistindo. Outros, como aconteceu com esse articulista, tomado por um átimo de lucidez ou outro sentimento qualquer, respondeu:-

- Ao integrar o quadro em extinção eu não saberia dizer o que vou fazer, mas caso não opte, não tenho dúvidas sobre o tratamento que vou receber na Polícia Militar!

Os tempos que se seguiram foram realmente difíceis. Os nossos salários permaneceram congelados. Perdemos o direito de assistência médica e odontológica, dificuldade estendida aos nossos familiares. Já não podíamos nem mesmo abastecer nossas casas no armazém e farmácia da Caixa Beneficente da Guarda Civil, diante da intervenção da Polícia Militar.

Felizmente, a Polícia Civil, movida por interesse em nossa mão de obra - na época o número de distritos policiais havia dobrado e não existiam policiais para ocupá-los - e em algum patrimônio da extinta Guarda Civil, nos acolheu e permitiu que nos tornássemos escrivães-optantes, investigadores-optantes, operadores-optantes, possibilitando assim a seqüência da nossa carreira policial. A equiparação salarial apenas foi obtida anos depois, via Poder Judiciário.

Ainda assim, o número de optantes ficou em torno de 1.112 guardas civis - poucos graduados. Briosos e valentes que, com o gesto da opção, preservaram os valores civilistas, calcado na liberdade de pensar e de agir através da iniciativa e criatividade individual, sempre estimuladas na busca do melhor resultado e do desenvolvimento pleno do ser humano.

O jardim da Dona Rosa

A família, nas duas vertentes, exibia com orgulho a sua origem italiana. Galileu, tinha no senhor Aristides representante da boa arte de costurar - a ampla sala de sua residência dava lugar ao atelier de alfaiate - envolvendo nessa atividade outros membros do clã.. Enquanto, dona Rosa tinha na família Toloto a sua origem. Trazia nas mãos e na alma a boa relação com o cultivo da terra - depois seus irmãos, tomaram gosto pelo comércio.

O imóvel dos Galileu ocupava área da avenida Jacinto Sá esquina com a rua Goiás (depois, Narciso Migliari). A casa imponente, em construção de madeira, com suas janelas altas e portas dobradas, dividia o terreno. Aos fundos havia espaço para a cocheira de um belo cavalo - volte-e-meia enfeitava a charrete da família, despertando a curiosidade - e a frente era reservada para o belo jardim da dona Rosa, enfeitando a nossa rua.

O muro existente, com seus vãos varados por caibros, permitia aos transeuntes acompanhar a sucessão das estações do ano, em meio ao florescer das plantas cultivadas com esmero e apreciar o desvelo de dona Rosa, em sua rotina de bem cuidar dos canteiros, renovando-os periodicamente.

A casa dos Galileu, assim como, a fábrica de bebida vizinha e a indústria do outro lado rua, possuíam água abundante graças à excelência dos poços que dispunham - não só pela qualidade da água, como também pela sua abundância. E com isso dona Rosa não tinha dificuldade para regar suas plantas, mesmo com a precariedade da distribuição de água pela prefeitura.

Lembro que na época, parte da avenida Jacinto Sá dispunha de água encanada apenas durante a madrugada. As famílias - em casa era assim - dispunham de tambores e durante as noites eram cheios para atender a demanda diária. Anos depois, como por acaso, acabaram descobrindo que quando da extensão da rede, involuntariamente deixaram cair na tubulação algumas pedras britadas - dessas mantidas junto aos trilhos da ferrovia - que reduziam em muito a vazão do cano-mestre. Resolvido o problema, a alegria foi geral !

Voltando à família Galileu, além de dona Rosa e o senhor Aristides, com seus inúmeros filhos e filhas, na mesma casa ainda vivia o patriarca Adolfo Galileu - figura inesquecível, não só por sua relação com as crianças, como pelas qualidades de artesão e músico. Além do ofício que transferiu ao filho, também ostentava conhecimentos de música. Penso que era o organista oficial da igreja matriz - atuava durante os ofícios religiosos. Em outros horários ministrava aulas de piano para os meninos e meninas, iniciando-os no mundo da música. Quando não, exibia disposição para alinhavar os coletes e paletós da freguesia da alfaiataria.

Evidente que a cidade ainda não exibia a pujança atual e, salvo algumas quitandas da rua Paraná, não havia comércio de flores. Nas ocasiões especiais - finados, casamentos e formaturas - era no jardim da dona Rosa que as pessoas encontravam flores para ornamentar suas festas e homenagear os seus mortos. Durante o dia a diversidade coloria aquele espaço e as nossas vidas, durante a noite o perfume do jasmim envolvia a nossa passagem e alimentava os nossos sonhos.

O senhor Aristides demonstrava ser um homem de hábitos rígidos - exibia uma vida quase espartana - não me lembro de tê-lo visto freqüentando bar ou estabelecimento congênere e, tampouco, emitindo juízo de valor sobre alguém ou referindo-se a alguma atividade humana. Como toda sua família, fazia questão de exteriorizar sua religiosidade e revelava ser detentor de boa cultura - o nome dos filhos Adelquis e Demócrito sugeriam bom nível de conhecimento - e pessoa de bom gosto, não só pela qualidade do seu trabalho como por sua forma de ser.

Quanto ao músico Adolfo Galileu, sempre trajando ternos de brim e sem abandonar a gravata, exibia bom gosto no trajar. O peso da idade já o obrigava a caminhar curvado - trazia as mãos às costas, como a compensar o desconforto - mas nunca resistia à provocação de um grupo de crianças. Parava para ensinar-lhes uma brincadeira infantil, certamente trazida da sua terra - envolvia dois contendores e consistia em um deles dispor as mãos espalmadas para cima e o outro sobrepor as mãos em condição oposta. Dali surgia o confronto, onde o primeiro tentava alcançar com tapa o dorso da mão do segundo, quando errava as posições se invertiam. Mesmo já bem idoso, o senhor Adolfo era imbatível nessa brincadeira.

Particularmente, em minha memória - do jardim da dona Rosa - ficaram as imagens dos copos de leite e das margaridas, essas sorrateiramente subtraídas para o indispensável jogo do "bem-me-quer, mal-me-quer", através da inevitável remoção de suas pétalas, acompanhado do acalanto do amor juvenil sonhado e nem sempre correspondido!

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