quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

CAIXA 2 - É SEMPRE CONTABILIZADO

Ao contrário do anunciado pelo Partido dos Trabalhadores - atentando contra a inteligência do brasileiro - todo caixa 2 que se preze dispõe de contabilidade organizada, ainda que clandestina e na forma da partida dobrada, ou simplesmente pelos consagrados débito, crédito e haver, sempre com objetivo de demonstrar os fluxos diferentes de dinheiro que passam pela empresa ou entidade.

Evidente que a contabilidade do caixa 2, por ilegal e/ou com propósitos escusos, se desenvolve às escondidas, paralela à contabilidade oficial, sendo o segredo imprescindível e exigindo a presença de um guarda-livro de confiança e muito bem remunerado para sua execução.

Esses cuidados - no sentido de mantê-la sob rígido controle - revela-se indispensável para o seu êxito e utilidade do caixa 2, quer como meio de sonegação fiscal, aliada à lavagem de dinheiro ou reserva financeira, como fonte disponível para realização de novos investimentos - e, ainda, como possibilidade de desvio de recursos financeiros para as mais diferentes finalidades - até mesmo para aliciar e corromper agentes do poder público.

Se atinarmos com atenção, haveremos de deparar em nossas andanças pela vida com a presença desse profissional - alguns o descrevem como fígura execrável, outros já os consideram experts nos segredos da organização contábil - sempre vinculados a uma organização empresarial, entidades beneficentes, instituições não governamentais e até mesmo em partidos políticos, como acabamos de assistir.

Além dos seus atributos profissionais, o operador do caixa 2 haverá de agir com discrição, dissimulação e, principalmente ser reservado e saber guardar segredo - logicamente, sob régia remuneração, fidelidade reconhecida e ressaltada, sempre gozando de prestígio e consideração junto aos seus senhores.

Particularmente, em decorrência do cargo público que exerceu e até mesmo pela condição de Técnico em Contabilidade guardo lembranças de figuras respeitáveis e impolutas na prática da organização contábil. Não só na sua comunidade de origem, como também nas duas dezenas de cidades onde prestou serviço e residiu. Conviveu com excelentes cidadãos e profissionais dedicados à profissão, sempre disponíveis a orientar e sugerir medidas a serem adotadas para satisfazer a burocracia pública e cumprir as regras tributárias.

Recentemente, a desfaçatez de um grupo de políticos que se locupletou com dinheiro de origem ilícita, se caracterizou pela dissimulação oferecida pelo responsável por sua distribuição que se tratava de valores não contabilizados - ainda que se soubesse prover de bancos e empresas beneficiados com favores da administração pública - provindos do caixa 2 do Partido dos Trabalhadores, recuperou a lembrança de dois jovens contadores que conheceu na juventude.

Apenas se diferenciavam pela origem, já que a formação profissional e a orientação vocacional eram idênticas - é bom que se diga logo, nenhum deles era ourinhense. O primeiro, ocasionalmente aportou em Ourinhos e daqui levou uma aparentada, ainda bem jovem com a qual se casou. Na época, já ocupava cargo relevante na contabilidade de uma grande empresa - integrante de multinacional do petróleo.

Por razões obscuras, acabou perdendo o bom emprego na capital e coube aos familiares da esposa acolhê-lo. Fixou residência na cidade e sua qualificação profissional permitiu ingressar nos quadros da maior indústria então existente. Não demorou e lá estava - o indigitado contador - cuidando das verbas da associação esportiva, face sua capacidade de se integrar e envolver as pessoas com suas idéias, nem sempre voltadas para o incorreto e ilegal. Desta vez a introdução do caixa 2 reverteu em benefício exclusivo do tesoureiro da entidade.

Depois de outro período desempregado e a indispensável mudança de cidade, o levou a bater às portas de uma grande construtora brasileira - certamente a maior e que leva o nome do seu criador. Desta vez foi bem aproveitado, foi incumbido de exercer o seu mister morando e trabalhando em uma fazenda da empresa no interior paulista, com claro propósito de dissimular e manter em segredo a sua atividade.

Enquanto isso, uma empresa familiar instalava-se em Ourinhos, trazendo a tiracolo um jovem contador, com o propósito de dinamizar a indústria e comércio de carnes na cidade e região. A falta de correção nos negócios, aliada à disposição incontrolável dos seus gestores em sonegar impostos - logo marcou o perfil da companhia.

Certamente, foi a indisciplina dos seus patrões - que insistiam em priorizar a omissão nos registros contábeis - ao invés de agirem à socapa como era recomendado, deve ter servido de motivo para o competente contabilista oferecer os seus préstimos ao concorrente - coincidentemente, outra empresa familiar, ainda preservando alguma reserva moral.

Ainda sem entender muito bem, testemunhou a sua introdução nos negócios da indústria e comércio, inclusive partilhando da apreensão que causava a sua contratação, já que existia escritório responsável pela contabilidade da empresa - logo dissipada, com a informação que o contratado iria atuar em outra área administrativa.

Há que se reconhecer a sua capacidade gestora. Os negócios da empresa prosperam e se expandiram, evoluindo de forma a torná-la exportadora de mercadorias para a Capital e outros Estados da Federação. Seu trabalho foi reconhecido e - ao que parece - passou a gerir com autônomia os segmentos relacionados com as compras, indústrias e comércio, tornando-se praticamente seu sócio, mormente nos lucros diante da remuneração decorrente do montante de impostos sonegados - resultado apurado através do caixa 2 ou contabilidade paralela.

Confirmado o ditado:- não há bem que sempre dure e nem mal que nunca se acabe - os negócios conduzidos pelo diligente contador apenas não contava com a retidão e intransigência do chefe do posto fiscal disposto a coibir aquele estado de coisa - revelava-se em afronta para o fisco. Depois de alguma resistência de seus superiores, obteve autorização para colocar fiscalização na porteira de entrada dos animais vivos e outra equipe no portão de saída das mercadorias - durante 24 horas, por dia - bastou para levar o respeitado grupo empresarial familiar à bancarrota. Acho que ninguém ousou colocar em cheque a atuação do contador - certamente, compensada pelos vultuosos lucros desviados em favor de alguns sócios.

Tempos depois, a caminho para Jacarezinho, encontrei uma das sócias daquela indústria tomando ônibus para ir trabalhar - como bedel de escola pública - em cidade da região, enquanto isso o guapo contador, naquela altura prestigiado professor em escola técnica, era o mais novo contratado de outro grupo empresarial, também familiar. Até hoje, ainda responde pela contabilidade dessa empresa, apenas não se sabe se a oficial ou paralela.

Por essas e por outras, que a versão oferecida por Delúbio Soares, tesoureiro do PT e operador-mór do "mensalão", com seu comportamento dissimulado, provoca repulsa e indignação - ou, como diria ex-deputado Roberto Jefferson, desperta em mim sentimentos primitivos!

2 comentários:

gabi disse...

Você conta o milagre mas omite o santo. Por que?

Noel G. Cerqueira disse...

Gabriel; Obrigado pela presença. Ainda é cedo. As pessoas estão vivas - e, bem vivas.

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