sexta-feira, 21 de julho de 2006

A Voz da Sabedoria

Acho que foi no final da década de 50, aportou na minha cidade - Ourinhos-sp - um homem, de boa aparência, bem falante, acompanhado da mulher e três filhos. Depois veio ter o quarto filho - o terceiro menino.

Logo se estabeleceu num ramo de comércio pouco difundido - representação-comercial. Guardo alguma lembrança do armazenamento e distribuição de produtos oriundos do Rio Grande do Sul.

Não teve dificuldades de integrar-se à comunidade. Como membro de um desses clubes de serviço, semanalmente freqüentava com aquele grupo o Bar do Fagá, para jogar bocha, truco e saborear a costela assada pelo "Zé Fagá".

Afeiçou-se ao jogo de bocha, mas como jogador era medíocre. A liderança e iniciativa marcavam sua presença. Assim, organizou o campeonato de bocha mais disputado da região. Inovou pela contagem em pontos corridos e pelo grande número de inscritos. Ainda adolescente, participei do certame como mesário, elaborando as súmulas e atualizando o grande placar com as partidas realizadas e pontos acumulados pelos bochistas.

A par disso, apesar da inteligência, cultura e capacidade de aglutinar pessoas, como comerciante não obteve grande sucesso. Por algum motivo, abandonou a representação-comercial e tentou implantar uma fábrica de camisas. Inovava pela marca "Supimpa", mas sua indústria acabou sucumbindo em incêndio, de triste memória.

Com isso, logicamente enfrentou dificuldades de toda sorte. Mesmo assim, conseguiu estudar e formar seus filhos. Pelo menos dois tornaram-se médicos conceituados e de expressão na cidade.

Mas, a maior lembrança que guardo daquele homem, diz respeito a uma passagem singela, onde sua inteligência e experiência de vida, mudou o destino de uma família - dando lhe um novo significado.

Existia então na cidade, uma empresa no ramo de torrefação e moagem de café. A empresa era sólida e liderava aquele ramo de comércio. Sua razão-social indicava a presença de dois sócios. Um casado, com três filhos adultos - dois trabalhavam na empresa, como empregados. O outro sócio, era solteiro e exibia confortável situação financeira.

Num desses acasos da vida, o sócio casado, gozando de boa saúde e prestígio, veio a morrer de forma súbita. Sua mulher e filhos, ainda aturdidos pelo inesperado, mais adiante, eram surpreendidos pela disposição do sócio em extingüir a sociedade, propondo a compra das cotas do espólio.

Assisti, a aflita viúva e mãe de três filhos - todos dependentes econômicos e, principalmente, afetivos do comerciante morto - socorrer-se do ex-representante comercial buscando uma orientação, para aquele momento de desespero e aflição.

Pacientemente, ouviu o relato da senhora - repentinamente erigida à condição de lider de uma família - onde o futuro de seus filhos e a garantia de sua subsistência era o pomo de suas preocupações.

Depois de saber detalhes da proposta oferecida pelo sócio dissidente, indagou daquela senhora - se ela tinha condições de devolver ao sócio a mesma oferta, por ele apresentada. Com alguma hesitação, a sofrida mulher que se mostrava resignada, foi se revelando numa valente defensora de sua família e com uma altivez até então não demonstrada, respondeu afirmativamente.

Então concluiu o sábio e experiente consultor:- está resolvido! Procure o sócio em questão, retornando a disposição do espólio de comprar a cota-parte dele na empresa, ofertando-lhe o mesmo valor e condições que se propôs pagar por igual número de cotas.

Com a sábia - porquanto, simples - sugestão, aquela senhora manteve a empresa sob o controle de sua família e com isso resguardou a proximidade com seus filhos, enquanto foi possível e as aspirações individuais permitiram.

Um comentário:

Anônimo disse...

Por acaso deparei com esse blog... do Noel, ops DR. NOEL!!!! Que saudade, "mestre"...
Meu nome é DANIEL, fui Escrivão em Piracicaba, trabalhei com o sr na DISE. Um dia desses passei na loja de armarinhos que foi da sua esposa para ver se reencontrava o sr, mas a loja foi vendida...
Aguardo um retorno seu.
Um gde abraço!

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