EXEMPLOS DE TORCEDORES
Quando deparo com torcedores enfurecidos, verdadeiros bandos, confrontando-se ou praticando atos de vandalismo, quando não emparedados pela polícia e somente contidos com o uso da energia necessária - em geral, exteriorizada em mais violência, minhas lembranças remetem a dois exemplos de torcedores.
Coincidência ou não, ambos torciam para o Esporte Clube Operário. Durante os dias da semana, em suas vidas cotidianas, se revelavam em funcionários exemplares, respectivamente, dos Corrêios e Telégrafos ? como agente, e do Centro de Saúde ? na função de fiscal sanitário. Também demonstravam ser bons chefes de família, pais responsáveis, enfim, cidadãos honestos e respeitados na comunidade.
Porém, aos domingos, depois dos jogos do Esporte Clube Operário - não importava o resultado. Se o time do coração perdia, afogavam suas mágoas e frustrações esportivas nos bares a caminho da praça central. No caso de vitória, aí então, a alegria pela conquista estava justificada e a comemoração obedecia, mais ou menos, o mesmo ritual.
Ao final da noite, já com os bares fechados - mas, reservando uma ou duas garrafas da melhor bebida - invariavelmente, iam se ater à Praça Mello Peixoto. Necessariamente, num mesmo ponto - banco doado e com a inscrição ?Esporte Clube Operário? - disposto debaixo de uma frondosa paineira, cujo tronco avantajado fazia meu pai homenagear uma vizinha e freguesa, dando seu nome àquela árvore.
Ali, acomodados no banco do time do coração - abraçados à alegria ou sufocando a tristeza - terminavam a noite bebendo e cantando a música de Assis Valente, consagrada na voz de Carmen Miranda, cuja letra tento reproduzir em alguns trechos:-
"Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí,
Em vez de tomar chá com torrada,
Bebeu para ti, levava um canivete na cinta
E o pandeiro na mão e sorria quando
O povo dizia Sossega leão, sossega leão . . ."
Assim, o sério e dedicado agente postal amparando e/ou aparado pelo responsável fiscal sanitário, partiam em direção às suas residências na busca de um refúgio seguro, com a certeza de terem dado o melhor de seus esforços para honra e glória do alvi-negro ourinhense !
Por isso, desde o desaparecimento do E.C. Operário; com a obscura alienação de seu patrimônio e aposentadoria e morte dos seus torcedores exemplares, há muito deixei de freqüentar os estádios de futebol, entristecer-me com as derrotas do meu time, ser comedido com suas vitórias e ficar, irremediavelmente, frustrado com o insucesso da nossa seleção .
Atualmente, resta-nos apenas lamentar o comportamento desses torcedores inflados, exclusivamente, pela violência !
P/S Os ourinhenses - mais antigos - não terão dificuldade de identificar os dois torcedores.
Aos seus familiares, meus respeitos e recebam o texto como homenagem.
(Folha de Ourinhos - 30/07/2006)
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