Ocasião Aproveita o Ladrão
Permitam-me, para um breve comentário, inverter os termos da frase que deu título à matéria "Ladrão aproveita a ocasião" (link para assinantes), publicada em Notas & Informações (26/07).Certa feita, Fernando Henrique, em vias de assumir o governo (ou já tendo assumido um pouco antes), em visita à Inglaterra, manteve rápido contato com a ex-ministra Margaret Tatcher, ainda bem ativa politicamente. Naquela conversa Fernando Henrique, com sua forma de ser, deve ter enaltecido a conduta de Tatcher enquanto chefe de governo, destacando o choque liberal que aplicou, privatizando serviços, bancos e empresas públicas, dando um novo dinamismo à economia inglesa e permitindo à "Ilha Velha" readquirir status de liderança mundial, inclusive no aspecto político. Como bom "tucano", FHC logo foi querendo se justificar, alegando que a sociedade brasileira e sua organização político / administrativa era bem diferente da tradição inglesa. Aqui existiam cartórios e segmentos da economia, que se traduziam em verdadeiros feudos. Esses grupos - tanto de empresários, como de políticos e trabalhadores - não abriam mão de seus privilégios e criavam dificuldades para qualquer reforma ou inovação, inviabilizando qualquer discussão nesse sentido. A "dama de ferro" arguiu dizendo que a realidade inglesa não era diferente, inclusive com agravante. Ainda vivendo num Reinado, com uma gama imensa de detentores de títulos nobiliárquico e usufruindo de direitos seculares, as dificuldades foram ainda maiores. Aí então - num sussurro de pé de ouvido - deu a receita:- -- Acene-lhes com algum privilégio ou até mesmo favorecimento pecuniário, para estimulá-los a aprovar as mudanças e introdução de inovações no sistema político / administrativo e econômico do seu país. O nosso "príncipe", ruborizado e todo constrangido, redargüiu dizendo que aquele procedimento beirava (ou seria cheirava) a corrupção e se reduzia a um oferecimento de propina aos empresários, lideranças políticas e sindicais. Com a mesma tranquilidade e segurança que mandou afundar o "General Belgrano", a ministra Maragareth Tatcher concluiu:- -- O Faça então, pela última vez! Embora perdurem alguns comentários, na forma de boatos e denúncias. Até o que sabemos, o governo Fernando Henrique, não teria empregado o expediente recomendado pela ex-ministra inglesa. Mas, caso o tenha feito - diríamos, o fez com competência e discrição - já que conseguiu realizar reformas expressivas na administração pública (lei de responsabilidade e previdência) e na economia, privatizando áreas sensíveis para o desenvolvimento como a telefonia, eliminou verdadeiros feudos e reservas de mercado, inclusive quebrando o monopólio da Petrobrás (pero no mucho!). Voltando ao texto do "Estadão". Depois veio o governo petista - voluntarioso, como toda liderança populista - prometendo refundar a nação e criar um novo país. Como não dispunha de maioria no Congresso e muito menos possuía a habilidade política e disposição para o diálogo do governo anterior - por iniciativa de seus áulicos, que sempre ouviam o galo cantar, mas nunca souberam onde - resolveram tomar ao pé da letra, a sugestão da ministra Margareth Tatcher. Assim, acabaram tomando os pés pelas mãos, criando apenas a "ocasião" que foi favorecer os "ladrões", principalmente os seus ... !