segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Na verdade, o (s) mesmo (s), com certeza

Admito que teria dificuldade, assim de sopino, em definir a classe e função gramatical de cada umas das expressões que dão nome ao título. Mesmo assim ouso afirmar sem hesitação que o seu uso, de forma indiscriminada, sem qualquer racionalidade ou exigência do texto ou do discurso, significa não só adesão ao "lugar comum", como também ausência de vocabulário mais extenso e de um mau gosto descomunal. Mesmo a conversa coloquial entregue amigos e familiares não suporta vício dessa natureza, mas a situação se torna intolerável - e até certo ponto inaceitável - quando o vício grassa pela mídia, tanto através da palavra escrita como nas falas de jornalistas, analistas políticos, economistas e por aí a fora. Há de se reconhecer afronta à forma correta de escrever e falar, além de sugerir aos incautos que o emprego dessas expressões poderia dar status e demonstrar alguma erudição.

Observo que o vocábulo "o mesmo", tanto no singular como no plural, passou a pulular no nosso cotidiano, a partir da fala e da escrita dos agentes policiais - os boletins de ocorrências e entrevistas o repetem com uma frequência despropositada, sem conseguir tornar mais clara a comunicação. Mas seu uso por um magistrado - juiz do caso Nardoni - ao ler sua sentença, causou mais apreensão, por não ter economizado o uso de "o mesmo" ou "os mesmos" no seu extenso relato e decisão. Talvez tentasse tornar o seu texto mais claro e objetivo - definitivamente não conseguiu, apenas mostrou insegurança e hesitação, possivelmente algum vício de origem.

Já "na verdade", suponho que seu emprego vise estabelecer, quase de maneira absoluta, que a premissa levantada é real e verdadeira, quando na realidade apenas tenta desenvolver um raciocínio lógico sobre o assunto - nada mais vazio para tentar convencer o leitor ou ouvinte de que a sua exposição (e conclusão) estão corretas.

Quanto ao "com certeza", seu uso procure refletir a segurança que de fato não existe ou está capenga, na exposição do seu autor - em geral está apenas reproduzindo argumento colhido aqui e ali, na maioria das vezes infundados.

Assim, resta apelar para a revisão crítica de eventuais leitores - assim como fizeram osd partidos comunistas de então. Enfim, penso que podemos refletir e concluir que o uso indiscriminado de expressões - consideradas da moda - não só denota carência de vocabulário, como também ausência de autocrítica e adesão a qualquer modismo que apareça por aí, além de se tratar de um vício de linguagem, diante da sua reiteração.

É lamentável!

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