O ministro Nelson Jobim, recém nomeado, como todo gaúcho apresentou-se com o chapéu dobrado na testa, apetrechedo da guaiaca, espora e o inseparável punhal. Quis logo mostrar a que veio - exibiu sua destreza com as palavras, fruto da vivência na advocacia, tribunais e principalmente na política, oferecendo seu poder de mando para os subordinados e não impondo nenhum limite à sua área de atuação. Com essa postura, aportou no Aeroporto de Congonhas - vistoriou a pista, como se
fosse o seu gestor; percorreu o trajeto do avião sinistrado, na condição de perito/investigador e quis conhecer o palco do evento e as dependências do IML como pretor a averiguar o resultado dos trabalhados ali desenvolvidos. Ainda na condição de gestor da crise, foi ao encontro do governador do estado e do prefeito da capital, com a postura de estadista e com firme propósito de impor sugestões e estabelecer metas para solução do problema. Certamente, não contava com a experiência
política e argúcia do governador José Serra - evidente que se surpreendeu ao deparar com projetos elaborados pelo governo estadual e prontos para serem implementados, como a expansão dos aeroportos, trem expresso para Guaruhos e aumento da área de escape de Congonhas. Num misto de surpresa e indignação, tentou esquivar alegando não poder assumir a realização daqueles projetos e fazendo troça disse tê-los conhecidos a menos de "meia-hora". Mesmo sem confronto, bem ao gosto do
bom gaúcho, a cerimonia no Palácio dos Bandeirantes deve ter servido ao ministro Jobim apear-se do espírito farropilha e retornar à planície, certo das limitações do seu cargo - mesmo porque detém apenas o Ministério da Defesa.
Não é de hoje que as usinas de álcool e açúcar expandem suas plantações de cana de forma indiscriminada - invadiram áreas de proteção ambiental permanente, destruindo matas ciliares e encostas. Mais recentemente, com a promessa de expansão da produção de etanol - propagada pelo governo petista como substitutivo do petróleo - assistimos a ocupação de novas áreas para o plantio de cana de açúcar. Embora houvessem denúncias, inclusive do exterior, o desrespeito com meio-ambiente continuou. A estrada do bairro Laranjal, no município de Jacarezinho, é um exemplo típico. Alí o poder público realizou excelente trabalho de proteção das micro-bacias hidrográficas - foram construídas curvas de nível e caixas de retenção (?) das águas das chuvas, assim como, o leito carroçável foi todo encascalhado, como forma de evitar a erosão. Mas, a plantação de cana de açúcar alcançou novos espaços e parte daquele serviço foi desprezado - simplesmente as máquinas das usinas ignoraram as curvas de nível e destruíram as caixas de retenção da água, para implantar novos canaviais. Pelo que foi dado observar, os órgãos responsáveis pelo serviço realizado (e destruído) e fiscalização ambiental - mesmo atuando na área - não mostraram disposição de coibir as flagrantes irregularidades ali perpetradas contra o meio-ambiente. Aliás, é bom que se diga, os pecuaristas cujas terras margeiam o ribeirão da "Água Quente" e outras nascentes também estão a contribuir para degeneração daquele excelente manancial, que abastece inúmeras propriedades - quando permitem que seus animais alcancem o leito do riacho, destruindo a vegetação existente e produzindo áreas de erosão e assoreamento. Ainda é tempo de agirmos em defesa do meio-ambiente - sem qualquer ranso ou xenofobismo exacerbado - apenas com a disposição de preservarmos boas condições para desenvolvimento dos seres vivos, inclusive os animais considerados racionais.
É sabido que a aeronáutica resiste - até mesmo tende a inviabilizar - que o controle aéreo brasileiro seja desmilitarizado. Recentemente, os jornais publicaram declaração atribuidas ao ministro Juniti, onde o militar dizia que a atividade civil tendia a ser desorganizada - ou algo parecido. Com isso defendia a manutenção do controle aéreo sob o jugo militar. Agora, surge a notícia que dois coronéis da FAB viajaram para os EUA levando dois objetos - como sendo as caixas pretas do Airbus A320 da TAM acidentado. Apenas ao entregarem o material para exame, veio a informação que umas caixas se traduzia em um pedaço de metal retorcido. Seria oportuno indagar:- seria essa a especialização e capacidade técnica de seus oficiais de nível superior que o Ministro da Aeronáutica se referia ao jactar-se da supremacia da organização militar frente à atividade civil?
Ainda sob o impacto das vaias na cerimônia da abertura do PAN, o presidente Luiz Ignácio haverá de atribuir o constrangimento sofrido às elites. Mas, sobre a onda de corrupção envolvendo a Petrobrás e os estaleiros não poderá invocar - como sempre faz - que o malfeito vem de governos anteriores. As investigações revelaram que as "negociatas" passaram a ser realizadas a partir de 2003. Portanto, logo no primeiro ano do governo petista. Tudo indica, que será uma das suas heranças para os governos futuros - certamente, outras serão reveladas mais adiante - mas esta tem a marca e a forma do petismo.